12 dezembro 2009

P. 2

A waitress steps behind him and touches his shoulder. She says 'Senhor, o toalete está interditado'. He looks at her, with a confused glance. To him, the girl've just said a flow of dragged consonants. 'I'm sorr...' he starts, but she pushes the door closed and shows him a sticked paper on the door's wood, which said: 'Toalete em desuso' and below, in a tinier letter 'Toilet out of use'. He looks puzzled, turns around and sits on his chair. He eats some other candies. Has the man gone there? Eddie's fake's dying for a fix, and he got acid before. He seems to consider asking the waitress whether his partner has entered the shop, but it wouldn't be sane. Were the man a illusion? The wine shop is almost empty, except by a couple of young parents with a very curious daughter. The parents hasn't noticed him (they're too focused on themselves), but the little one stares him with big and interested eyes.
He seems to mutter something like 'Ok, that wasn't real'. He drinks the unfinished glasses, stands up, pays the bill and goes out to the mist, to the rain, to the river. And, if he is lucky, to the hotel.

30 novembro 2009

Porto.

There is a man sitting at the other table of the little wine shop. He seems much alike Eddie Dean; the awkward black hair, the pale skin, the hooked looking and a pair of eyes whose colour is difficult to distinguish. Green, amber, blue, grey... could be one, some of those or might all of them together, it wouldn't make him more or less odd. He has some half emptied glasses of Porto wine on the table, his candies are almost all gone. He looks through the dull window, waiting for another man who went to the bathroom. The mist coming from the river gives a gloomy appearance to the city. He probably needs a fix; the bags under his eyes seems to be weighting a ton and he patters the table with his long fingers.
Tick-tock, says the shop's clock. He apparently cannot keep on waiting. Dean's clone puts himself on his feet and walks to the bathroom door. There he knocks. And nothing.
He calls the man's name. And nothing.
He tries to open it. It wasn't locked, so the door opens quietly. He stares the toilet, the water gently moving a large piece of shit. The smell spreads through the shop.

19 novembro 2009

Tu.

Carros passam a altas velocidades pela avenida, ouves somente um zumbido e sentes sua roupa esvoaçar a cada alucinado de quadro rodas. A luz da torre de telefonia está adiante, mas tu não estás interessado nela, te interessam as reentrâncias dos edifícios novos e vês teu vulto nos vidros espelhados. Chove. Teu cabelo molhou-se desde o momento em que saiu do metrô, mas tu não te preocupas. Andas sem grandes preocupações, sem grande espectativas, sem dinheiro, documento ou qualquer coisa que valha. Tu não existes, então não morres e enfim, não estás ali.

03 novembro 2009

Composition #5

__'Come in' he said as he heard a knock on the door.
__A shy woman walked cautiously through the room, after closing the door. It was her second session, the doctor thought.
__'Good morning, doctor Hollow' she murmured.
__'Good morning, Miss Dunaway, please take a seat' he waited her to do it, and continued 'Today I'll ask you to talk about your childhood, is that ok?'
__She made an affirmative and her shoulder had a violent spasm. Oh God, he thought, this is sadly creepy.
__'Ok... when I was, like, seven years old we moved to a rural place. I had a twin, I've already told you, Susette, who was a few minutes younger than me. We used to play in the garden behind the house, specially hide-and-seek. My mom was always working until the late afternoon, so we had only our stepfather working at home, locked in his office. We used to feel very lonely, so we created imaginary friends. Kids always do that, I think... anyway, there were two: Louis and Jack. Louis was a little centaur and was very kind; Jack was a boy with wings on his heels, which made him much faster than us; he was audacious, stubborn and bad tempered sometimes... but we loved them.' She took a pause, breathing deeply.
__'Behind our garden there was a farm. In spring, that year, the wheat was very tall, much bigger than us. We used to race there, but Louis and Jack were very fast, we oftenly lost sight of them. One day, when the sun was high in the sky we made a bet: the last to arrive at home would eat the cat's food for lunch. As soon as we started Jack and Louis disappeared through the wheat. I got lost and just found the way home a long time after. Suse was not there and our stepfather was furious' She did the spasm once again.
__'He slapped me to make me explain what happened. I told him everything about Louis, Jack and the bet. He got crazy and we went to look for her. Suse was nowhere. We contacted the farmer, the police and all... but she was never found.' She went silent and started to weep.
__After a while, Miss Dunaway completed, sobbing 'our family was never the same after that.'

29 outubro 2009

Unicamp 2007

...Com o auxílio de elementos presentes na coletânea, trabalhe sua narrativa a partir do seguinte recorte temático: Os meios de transporte sempre alimentaram o imaginário das pessoas em todas as fases da vida. Desde a infância, os brinquedos e jogos exprimem e estimulam esse imaginário
Instruções
1) Imagine a história de um(a) personagem que, na infância, era fascinado(a) por um brinquedo ou jogo representativo de um meio de transporte.
2) Narre a origem do encanto pelo brinquedo e o significado (positivo ou negativo) que esse encanto teve na vida adulto do(a) personagem.
3) Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.

Pois bem...

__O garoto se esgueirava para fora da cozinha alvoroçada segurando com firmeza contra si um pedaço amarrotado de papel e um de carvão, a enegrecer-lhe a mão e a camisola de linho cru. Como ninguém lhe prestou atenção, ele rumou para os fundos de uma pequena capela. Nessa área mais afastada do jardim, túmulos de mármore restavam onde o sol ainda não alcançara. Ervas daninhas cresciam por entre as lajes e insetos prenunciavam um dia de verão. O menino içou seu corpo diminuto para cima de uma das pedras e ficou ali sentado, ouvindo os sons da casa a se espreguiçar.
__Conforme o sol avançou, os raios iluminaram as pernas alvas do garoto, que agora se ocupava de examinar uma curiosa planta balouçante sob a brisa morna, cuja persistência desfazia suas flores em pequenos flocos brancos, fazendo-as flutuar no ligeiro vento.
__Ele apanhou o papel amarfanhado e, após uma alisada, pôs-se a desenhar a inédita planta. Percebeu neste momento que aquelas lindas partículas dançarinas lembravam-no de homenzinhos voadores, fazendo seu exótico baile no ar. Aquilo imediatamente o animou - imagine que lindo seria se os homens pudessem voar..! Com isso em mente, passou a rabiscar no verso homens alados - com asas de cera (como as de Ícaro), com asas de madeira, com asas de tecido...
__Feito isso, partiu pelos jardins em busca da tal planta. Um criado esbaforido deu por encontrá-lo no meio das flores, a rodopiá-las girando-lhes o caule, com olhos brilhantes de vivacidade e um sorriso espreitando-lhe os lábios.
__Para o estarrecimento de seu maestro, tanto naquele dia como nos vindouros, indagou-lhe minuciosamente sobre homens voadores. A pouca disposição do maestro, todavia, sepultou aos poucos suas confabulações.

__Estava em seu estúdio a procurar um antigo estudo seu de anatomia, a coçar a barba de quando em vez e a abrir baús, quando se deparou com alguns rabiscos. Já eram velhos, pois o papel rasgava em pontos diversos. Com um sorriso, reconheceu o seu traço juvenil e vislumbrou o rascunho de uma planta que sempre o recordava de Ícaro, de asas e de bailarinos celestes. Espiou mais alguns desenhos, mas as flores rodopiantes não lhe saíam da mente. Imaginou então um homem agarrado ao cabo de uma flor imensa que girava feito uma hélice. Seu sorriso se expandiu sutilmente. E se..?
__Leonardo deu as costas ao seu estudo perdido de anatomia e encostou a porta. Em seguida, o homem de Vinci sentou-se à mesa e apanhou um novo papel.

22 outubro 2009

Pessoa, Fernando.

Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.
Shitty little time.

15 outubro 2009

MinutoMetragem

Situações cinematográficas que acontecem por aí. Pequenas. Comuns ou exóticas. Elas existem, o tempo inteiro.
Obs.: Os personagens não têm necessariamente a ver comigo.


Teto de um ginásio de alumínio. Borrões vermelhos e brancos se deslocam pela superfície metálica. Sons de gritos, ecos, barulho de gente e bola correndo vão surgindo num crescendo até o volume habitual.

Voz em off (abafada) - P1: ...são essas pessoas que vão ser a elite da nossa sociedade em dez, quinze anos; a elite adepta ao PIG, como os pais, todos repugnantes. Eles vão estar basicamente iguais, com os mesmos planos mesquinhos para o fim de semana, com as mesmas brincadeiras. Estúpidas. Agressivas. Neofascistas...
Voz masculina se destaca da gritaria: Ô Bu(n)da!..

P1 se cala.

P1 (normal, não mais abafada), hesitante:
Buda..?

Imagem desce para os jogadores, ângulo da câmera como uma pessoa deitada na arquibancada. Risada em off (de P2).

P2 em off (rindo):
O quê? Buda?
P1 em off: Alguém falou Buda?

Câmera se movimenta e endireita.

P2 em off:
Deve ter sido Bunda.

Garoto gordo do time escorrega no piso molhado de suor e cai. Caçoam dele, do Bunda.

P1 em off:
Ah... (Silêncio. Câmera deita de novo e aponta para o teto) que calor...
Vozes vão esvanecendo e pálpebras vão se fechando enquanto P1 resmunga
P1 em off (abafada): Buda? Esses imbecis não sabem o que é Buda, devem achar que budismo hinduísmo fenshui é tudo a mesma coisa. Bando de ignorantes, os anabolizantes devem ter explodido os neurônios deles... digo, só deve ter sobrado o Tico e o Teco, com um mataburro entre eles...

09 outubro 2009

(Drummond)

A bomba
é uma flor de pânico apavorando os floricultores
A bomba
é o produto quintessente de um laboratório falido
A bomba
é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles
A bomba
é grotesca de tão metuenda e coça a perna
A bomba
dorme no domingo até que os morcegos esvoacem
A bomba
não tem preço não tem lugar não tem domicílio
A bomba
amanhã promete ser melhorzinha mas esquece
A bomba
não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está
A bomba
mente e sorri sem dente
A bomba
vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados
A bomba
é redonda que nem mesa redonda, e quadrada
A bomba
tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba
multiplica-se em ações ao portador e portadores sem ação
A bomba
chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba
faz week-end na Semana Santa
A bomba
tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba
industrializou as térmites convertendo-as em balísticos
interplanetários
A bomba
sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose,
de verborréia
A bomba
não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba
envenena as crianças antes que comece a nascer
A bomba
continua a envenená-las no curso da vida
A bomba
respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba
pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba
é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba
é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba
tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro,
cobalto e ferro além da comparsaria
A bomba
tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba
não admite que ninguém acorde sem motivo grave
A bomba
quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba
mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba
dobra todas as línguas à sua turva sintaxe
A bomba
saboreia a morte com marshmallow
A bomba
arrota impostura e prosopéia política
A bomba
cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba
é podre
A bomba
gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado
A bomba
pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba
declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba
tem um clube fechadíssimo
A bomba
pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba
é russamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris
A bomba
oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos
de paz
A bomba
não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba
desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger
velhos e criancinhas
A bomba
não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer
A bomba
é câncer
A bomba
vai à Lua, assovia e volta
A bomba
reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação
em cadeia
A bomba
está abusando da glória de ser bomba
A bomba
não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba
o instante inefável
A bomba
fede
A bomba
é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba
com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve
A bomba
não destruirá a vida
O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba.

27 setembro 2009

Maschera (3)

__Era final de tarde; os pequenos explosivos caseiros atritavam dentro do saco plástico, as ruas estavam apinhadas de pessoas paradas, pessoas andando e pessoas correndo para o semáforo que fechava. Ninguém reparava no homem com sacolas de supermercado, no homem sem cicatrizes, de semblante tranquilo, mas animado (como se andasse a um piquenique). Foi desacelerando o passo conforme se aproximava de uma estação de transmissão elétrica. As torres de alta tensão zumbiam como besouros, altas e desafiadoras contra o céu anil. Incautas cercas separavam a estação da calçada, como o homem havia observado anteriormente. Com um ar distraído, ele foi andando, a recolher do interior da sacola pequenas bolotas do tamanho de nozes interligadas entre si. Ele fez um rolo com os explosivos, amarrou-os com o próprio fio, apertou um botão em uma das bolotas e os atirou através da cerca. Virou-se para correr, mas deu um bruto encontrão em um homem enorme e mal humorado, que grunhiu feito um animal e agarrou-o, rosnando algo que os ouvidos do homem não podiam compreender. Ele tentou desvencilhar-se, em vão; o brutamontes irritou-se mais e começou a rugir com ele; saliva se desprendia da sua boca e respingava no rosto sem cicatrizes. A animosidade das belas feições do homem – ou seria do arlequim? - foi cedendo espaço ao pânico crescente; quem sem demora logo pôs-se a segurar a sacola (com ainda algumas carreiras de explosivos) com mais força e brandiu-a contra o rosto de seu antagonista. Como o ansiado, o aperto afrouxou, o homem soltou-se e, a cambalear para trás, aproveitou a ocasião para atirar a sacola inteira pela cerca; em seguida atravessou a rua feito alucinado, o rosto lívido de desespero. Com um buzinar e um guincho furioso de freio, o homem foi atropelado e lançado longe. Ao encalço do carro veio a explosão.

_

__O médico encarava o paciente adormecido, a franzir o cenho; olhava as queimaduras espalhadas pelo corpo, as costelas quebradas, o joelho esmigalhado com um quê de exasperação. Prosseguiam as investigações sobre o indivíduo, acusado de explodir e incendiar vários pontos da cidade nas semanas anteriores. Sua identificação estava em cima da escrivaninha, mas o homem não parecia se recordar dela – vejam só, respondia somente por “Arlecchino”! Todas as vezes em que acordara – segundo a enfermeira – indagava em voz esmorecida onde estava, e assombrava-se em não se encontrar em Veneza. Perguntava então de seus trajes e repetia o que afirmava ter sido seu último incêndio – em que pulara na água depois de explodir um ônibus-aquático, apinhado de gente. Dizia ter sido atropelado por um outro barco e perdera então os sentidos. Confessava tudo com um ar meio insensato. O neurologista ainda não viera checar o paciente, como observou o médico com irritação. Poderia ser traumatismo craniano – cogitou ele, perscrutando aquele rosto desfigurado mas comum mais de perto. Ou talvez só mais um esquizofrênico, como cansaram de anunciar os noticiários. O médico deu de ombros e passou para o próximo leito.

Maschera (2)

__Com o sobretudo ligeiramente chamuscado nas mangas, ele saiu do beco, sentindo atrás de si um cheiro forte de plástico queimado. Embora tivesse tido dificuldades de atear fogo no lixo ainda molhado pela chuva, seu rosto exibia um sorriso satisfeito. O homem rumou para a padaria para tomar um café com leite; pelas poucas pessoas por quem passava, ninguém parecia dirigir um segundo olhar ao seu rosto pintado.
__Três horas mais tarde, via-se um homem de belas feições a fumar preguiçosamente em um dos bancos do parque municipal; com uma das mãos entretia-se com seu isqueiro. Uma criança corria esbaforida atrás de meia dúzia de pombos, que arrulhavam e se dispersavam em todas as direções; um deles pousou a pouco centímetros dos sapatos do homem, chamando sua atenção. Ele desviou o olhar hipnotizado do isqueiro para observar a ave. O colar furta-cor do pássaro reluziu sob o céu encoberto, e os olhos do homem faiscaram, ávidos.
__Em poucos momentos, o trecho do parque ficou vazio e o homem acocorou-se e pôs-se a atear fogo na cauda dos pombos com uma expressão de puro deleite no rosto; alguns deles de tanto contorcionismo tiveram suas asas em chamas e em pouco tempo se tornaram pequenas bolas de fogo cambaleantes.
__Tendo retornado ao apartamento, foi tomar um banho. Ao apanhar a gilete para fazer a barba – por força do hábito – percebeu, defronte ao espelho enevoado, que não tinha mais barba. Tampouco tinha os losangos coloridos desenhados no rosto; somente estavam lá os seus contornos, como que feitos à caneta. O formato da máscara, entretanto, mantinha-se lá, a suavizar seus traços, a torná-los andróginos.

_

__Um homem estava sentado em uma lanchonete a assistir o noticiário. Ali exibiam a tentativa dos bombeiros de controlar chamas da explosão de um posto de gasolina, cuja causa ainda não havia sido esclarecida. Um sorriso sardônico se insinuava pelos lábios deste homem, que segurava a xícara com ambas as mãos, cobertas de queimaduras. Aberto embaixo do pires havia um mapa da cidade, repleto de anotações. Alguns poucos pontos estavam assinalados de vermelho, a maioria de preto; ele pegou uma caneta e pintou com capricho um deles, enegrecendo um sítio marcado de vermelho. No vidro bem polido da janela via-se o reflexo de seu rosto – belo como uma obra de Buonarrotti, mas com cicatrizes de algo que lembravam losangos; estas, todavia, pareciam afinar ininterruptamente, como se submergissem na pele a sumir de vista – em poucos instantes elas haviam desaparecido. O homem recolheu suas coisas e levantou-se para pagar a conta.

26 setembro 2009

Maschera

__Ela o chamara de vazio e oco enquanto chutava suas malas para fora do apartamento, em seguida fechara a porta; ele então permanecera com sua expressão impassível, fumando os cigarros baratos de menta e jogando as cinzas pela janela aberta. O apartamento ficara vazio, como ele. E agora, naquela chuva fina a empapar-lhe os cabelos, ele andava. Se abrigou embaixo de um toldo vermelho, meio velho, e dirigiu um olhar desinteressado para dentro da vidraça. Era um sebo. E dentro do sebo havia uma máscara.
__O sino da porta anunciou a sua saída meia hora depois. Debaixo de seu braço havia um saco plástico, com aquela máscara e um livro, já que o velho cismara de não vender a máscara à parte. A chuva convenientemente parara, e o homem se aventurou por entre as poças, a caminho do apartamento abandonado. Ao chegar pendurou-a logo acima do espelho rachado da sala. Ela observava de cima aquela vagueza de matéria e de espírito com uma expressão indiscernível. O homem a contemplou por algum tempo, imerso naquela fisionomia tão magnética; em seguida foi à cozinha, preparou um miojo e levou a panela para a sala. Sentou-se na poltrona – que gemeu dolorosamente – e apanhou o livro com a mão livre.
__A noite chegara e já começara a se dissipar com os primeiros raios de sol quando ele finalmente o colocou de lado. A imagem vívida do arlequim mantinha-se em sua mente – sua prática piromaníaca escondida pelos trajes, confeccionados por ele para tais ocasiões – entre pombos, gôndolas e águas venezianas, onde encontrara seu mísero fim, morto por um barco qualquer. Ele olhou-se no espelho, para a sua aparência apagada (os olhos inexpressivos, o rosto comum, a barba por fazer, o jeans manchado e a camisa amassada), tão semelhante a todos os outros que andavam pelo mundo; e acima do espelho estava a máscara, belíssima em sua androginia, atravessada por losangos coloridos. Ela parecia violentá-lo com aqueles olhos sem órbita de uma maneira tão impactante que o homem se pôs de pé e em poucos passos pegou-a nas mãos. Manuseou-a de um jeito automático e meio entorpecido, como se estivesse refletindo sobre um assunto muito sério. Em um dado momento a máscara escorregou de suas mãos, e no ímpeto de salvá-la da queda, o homem apanhou-a e encaixou-a no rosto. Em sua mão ela parecera menor, mas ao encarar-se no espelho percebeu que ela se adequava perfeitamente à sua face de um jeito quase surreal. Não parecia ela mais uma camada de seu rosto, aqueles traços – bem mais suaves que os seus – tinham se sobreposto ao seu rosto de uma forma tão sutil que ele parecia não ter coisa alguma em seu rosto exceto tinta; sem máscara, sem nada, só uma tinta carnavalesca sobre a pele.
__Estava devidamente fantasiado, pensou ele então, com um quê de divertimento. Flexionou as mãos gélidas como se estivesse a reexperimentar seu próprio corpo. Foi até a janela e escancarou-a, colocando a cabeça para fora a observar a rua. Pouca gente passava por ali, alguns ainda trôpegos de sono. O caminhão de lixo reciclável passaria em poucas horas, deixando à sua espera um amontoado de tralhas no beco ao lado de seu prédio. Um impulso o incendiou de tal forma que ele deixou a janela.

14 setembro 2009

Placebo.

Tu mentes para si mesma, na maior cara dura. Conscientemente. Não te convences, mas serve de efeito placebo. É bem contraditório, tu admites. Ages como se acreditasses no que afirmas, mas no fundo - na real, nem tão no fundo assim - sabes que o que é não é. Crias uma imagem que sabes que não é real, mas não é tão distante de ti quanto parece. É como na física: depois de fazer um monte de aproximações para chegar facilitar a conta, a gente acaba num resultado consideravelmente diferente.

"It's been a long time now since I've seen you smile"

10 setembro 2009

Conjuguemos.

Eu corro
tu corres
ele corre
nós corremos
vós correis
eles correm.

corremos todos.
(cansada estou)

22 agosto 2009

Seaside.

But I'm just trying to love you in any kind of way; but I find it hard to love you, girl, when you're far away

11 agosto 2009

três;

' Quando você for inspirar, faça-o até o ar chegar ao pé' ela disse, disfarçando com delicadeza a impaciência que a rondava. 'Como se o ar fosse ser armazenado lá, também, como se você fosse voar'.
Alice fechou as pálpebras enquanto o fez, as narinas a dilatar-se silenciosas, as costelas inflando-se como um balão, a pélvis a segurar-lhe o ar que tramava de escapar-lhe, rindo como criança marota. Ele foi descendo, disseminando-se dentro de seu corpo de fantasia, explorando os vãos entre as células, até que enfim ele chegou ao pé. Os olhos se abriram, extáticos, relampejando triunfo.

É. Extáticos era bem a palavra. Não era ar que a impelia senão seus músculos retesados. A voz de sua professora não era nada senão um eco longínquo em sua mente, deteriorada e distorcida pelas mãos firmes e mornas que lhe subiam pelas coxas, com as costas roçando entre si. Alice fechou os olhos de novo e tenaziou o que pôde primeiro distinguir pelo tatear: sua ovelha de pelúcia. Estava a levantar vôo, e não deixaria para trás sua nuvem particular.

04 agosto 2009

[o acaso entregou] Alguém pra lhe dizer o que qualquer dirá

Parece que o amor chegou aí
Eu não estava lá, mas eu vi...

30 julho 2009

I know it doesn't seem so,

but I know what to wait for, and what I'm seeking out. (:
Trust me, I really do.

23 julho 2009

Obnubilados.

__Meus olhos doem. Não sei se é porque tento enxergar o que está além de mim, ou se porque ele não quer ver o que nos traz a maré. Talvez seja pelas minhas tentativas de enxergar o que não posso (ou não deveria) ver com os olhos.
__Meus olhos doem. Confesso que, na verdade, é um só que dói. Dói daquele jeito cansado, latejante, tão insistente quanto um cachorro com fome. O que dói é o lado direito, o meu lado mais descontrolado, mais irracional. Ele dói como se algo o empurrasse para fora; como se minha cabeça estivesse inchando de um lado só.
__Pronto, agora meus dois olhos doem. O outro se uniu solidariamente, dando um tímido apoio. Minha cabeça também dói agora. A parte de trás.
__É tudo uma dor de espera, de cansaço, de entorpecimento. A dor se infiltra nos órgãos e desce como um doce véu; ela avança, puxada pela gravidade. Chega ao estômago, o corrói por completo e faz o que deveria ser o coração inchar. De dor, de aflição e de impotência. Ele incha e comprime seus vizinhos, e empurra a dor para baixo.
Meus olhos não param de doer.

19 julho 2009

Clap-ton

Clap. Clap. Clap.
A shy noise came from the gate, sounds of hands clapping, anxiously waiting. He looked through the window. The house was dark, although she knew he was standing there, peering at her with his distant eyes.
Clap. Clap. Clap.
The rain pattered the glass, smothering those stubborn clapping hands. They weren’t stubborn, actually, he thought, almost desperate, afflicted, but not stubborn at all. They could be stubborn in other subjects, fleshy ones.
Clap. Clap. Clap.
She wasn’t like that, he considered, and, thinking deeply, she had never been like that. What was she doing, soaked and trembling and clapping?
He stayed, she remained.
Clap. Clap.
Clap.
And then she stopped. Suddenly. Utterly. She stopped as she never clapped there; as a stranger; as someone else. She took her huge bag from her back and dug around it until she found a little white stick. She peeped discreetly and went to the other side of the street. There lay a stately bricked wall, wet by those endless teardrops. She threw her bag away at the sidewalk and began to write something.
Oh, that’s a chalk, he concluded.
The rain cleaned her writing in a few moments, but he could see her strong handwriting fading away with two verses. And then she clapped again, at the other side of the street.
‘And will we cry in passion or will we cry in pain?’
Clap. Clap.
‘And will our lonely teardrops fill the world with rain?’
And then he understood. He looked his dark house, and heard the other Her snoring in the room. He sighed, and went to the window. He didn’t looked at her face, just breathed near the glass, making blurry stains and writing a slow ‘in pain’, backwards.
He left the window and went to bed.

16 julho 2009

Mr. T

"Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
I'm not sleepy and there is no place I'm going to.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
In the jingle jangle morning I'll come followin' you.

Though I know that evenin's empire has returned into sand,
Vanished from my hand,
Left me blindly here to stand but still not sleeping.
My weariness amazes me, I'm branded on my feet,
I have no one to meet
And the ancient empty street's too dead for dreaming."

06 julho 2009

Balacl...

"And there isn't no going back
And it's wrong wrong wrong
But we'll do it anyway cause we love a bit of trouble"

27 junho 2009

picture that.

Há alguém nu em um ambiente claro tentando maquinalmente retirar de sua pele algo que escorre; algo que escorre de seus ouvidos, de seus olhos e cobre seu corpo. É um líquido translúcido, meio viscoso que parece ter imagens em seu interiro distorcidas pela reflexão da luz. Do líquido parece vazar um som indistinto, como várias pessoas murmurando ao mesmo tempo. Esse alguém tem a expressão de entorpecimento, os olhos vidrados, vazios, a boca entreaberta. Suas mãos estão enegrecidas, manchadas de símbolos, desenhos e esquemas. Setas sobem-lhe pelo antebraço; agulhas de acupuntura estão espetadas pelo corpo, algumas tombadas pelo líquido que escorre vagarosamente.

25 junho 2009

Eclipse solar.

É como se eu estivesse com aqueles negativos para proteger os olhos do sol na hora de ver um eclipse: a luz é mais tolerável para ver, mas o mundo fica mais escuro, marrom e feio. Os defeitos e os problemas saltam a vista, e até então eles eram ofuscados pela claridade.
E eu chafurdo na indignação, e no inconformismo puramente teórico.

15 junho 2009

...felicidade sim.

__Minha tristeza se parece com alguém se afogando; é como se ela tentasse subir a superfície, naquela ânsia desesperada contra um carrasco distraído - assim que vem a tona eu a empurro de volta, com aquele nó a rasgar a garganta e a contrariar a gravidade, querendo sair pela boca.
__Minha tristeza é mais fiel do que Romeu para Julieta. Ela retorna, me abraça, me engloba e me consome. Me estupra até, quando eu tento afogá-la demais.
__Minha tristeza é como vômito. Nunca vem, acontece e pára. Ela vem, acontece, reacontece, repete, dá bis, tris e sei lá mais o quê; até você ter a impressão de que não vai sarar nunca, e que não há nada a ser feito para impedi-la.
__Minha tristeza é como soluço. Se teme que ainda não tenha passado, toma litros e litros de água até ficar mal, tenta todas as macumbas e até tirar da cabeça, pensar em outra coisa, mas sempre volta, e sempre se pega com a frase 'ela ia voltar, como eu fui pensar que não..?'. Ela sempre está ali, à espreita, vigilante.
__Minha tristeza me distorce inteira; por mais que eu me revolte, ela torce meus músculos da face, aperta minhas glândulas, me espreme as lágrimas. Sua mão é cruel, e me faz encolher.
__Minha tristeza me arranca os sabores da boca, deixa só aquele eco amargo da laranja, aquela vagueza de espírito me amarrando a língua.
__Minha tristeza me desenterra remorsos, me tira a poesia e a literatura do mundo; ela torna tudo seco e arenoso e marrom. Ela transforma o Paraíso do Gênesis em Mendoza, sem as montanhas ao longe, sem o céu complacentemente azul.
Ela me sufoca. E eu não consigo arrancá-la de mim.

08 junho 2009

gerundindo. (iludindo)

___________infindo
___________(g)emendo
___________
___________descendo
corr-romp-endo
___dis-correndo
___________ex-corre-ndo
______________________só-correndo

socorro!

04 junho 2009

Catatôniquinspirrativo

sensacionalismo barato a conta-gotas,
catando cotonetes com os dedos dos pés,
cantando o rugido inaudível das (placas) tectônicas,
semitonando as cocheiras fedorentas.

atchim.

30 maio 2009

- can we...

...just for a minute, stop?
please..?
- no, he said, i'm not upset.
yet.
- but why do i have to wait your uneasiness?
...
- 'cuz before that you won't die.

29 maio 2009

dois;

O sinal do intervalo soou, e Alice mal se mexeu. Pensava em algo muito profundo, e de tanta profundidade seus olhos estavam perdidos, a face branca. Ninguém a incomodava. Os ruídos a cercavam. Ela ouvia, ouvia; e pensava.

16 maio 2009

(St. Markus Passion)

Ich will hier bei dir stehen, verlasse mich doch nicht, von dir will ich nicht gehn, wenn dir dein Herze bricht, wenn dein Haupt wird erblassen im letzten Todesstoß, alsdann will ich dich fassen in meinen Arm und Schoß.

12 maio 2009

um;

Alice pestanejou uma, duas, três vezes. A visão teimava em continuar fora de foco, mas o neurótico despertador apitava cada vez mais alto, e ela não queria acordar o pai, que dormia no quarto ao lado. Tateou o criado-mudo em busca do celular, que guinchava e vibrava sobre o tampo de madeira. Desligou-o. Espiou pela janela ao lado da escrivaninha: mal amanhecera, o céu ainda estava naquele cinza indistinto que pode ser tanto prenúncio de chuva como de um dia qualquer, normal, meio azulado - sabe como é... abril é um mês espacialmente azul, ainda mais em um país onde as folhas não caem no outono. Resmungou um pouquinho e se levantou.

Pedindo licença ao professor para entrar, apressou-se para a sua mesa, fazendo sua saudação tímida de atrasada. Os olhos custavam a focar-se no professor, e logo ela deixou de prestar atenção, desenhando lânguidas formas em seu caderno, em cima de uma longa explicação de botânica.

09 maio 2009

I want to know what you got to say

I can tell you taste like the sky 'cause you look like rain

30 abril 2009

Praça

vinha vindo em esvoaçantes passos
e velada dor nos olhos invernais
variava a rota com vagar
/ por entre /
os vultos vegetais.

o vento afagava sua figura
fina
desfilava entre folhas mortas
- revoltas em furioso redemoinho -

que, roçando em seu frio rosto
ronronava ruídos
e riscava lágrimas;

arruinava-a.

15 abril 2009

ai, ai.

eu estou num daqueles dias que a gente parece inspirar e o ar vir carregado de melancolia, e quando você olha para o vento roçando nas árvores você vê a melancolia impressa no ato e pensa que tudo aquilo é tão tão bonito e tão tão triste, e aí você suspira bem fundo e percebe que seu corpo não é um receptáculo suficiente para extravasar o suspiro bem maior que você gostaria de ter soltado, então você suspira profundamente várias vezes e as pessoas que estão perto te perguntam o que você tem, se está apaixonado; e é uma conclusão tão disparatada que você tem vontade de dizer que está enamorado pela realidade, pelo mundo que vaza melancolia por todos os prótons.

se.

'Se a gente já não sabe mais
Rir um do outro meu bem
Então o que resta é chorar
E talvez se tem que durar
Vem renascido o amor bento de lágrimas.'
pois é...

04 abril 2009

Composition #4

Once there was no America, no Italy and no Pope, only the huge roman empire ruled by Vespasianus. In that time, christianism was a forbidden creed, so their believers were hunted down and tortured. Some of them, due to these violent treatments, became mentally affected.
And that was the case of Alexius, a joyful young man, who had lost his right thumb when attacked by two drunk legionaries in the last villagge. He had wan away bleeding, in the middle of the night, mumbling beetween his sudden hysteric laughs. However, this incident had been more than ten days before, so he was almost healed.
Alexius finally found another city, which was located at the foot of an enourmous mountain. It was night, and the breathing was as difficult as if the air was magma. He straightened his ragged cloak and stepped in, doing the cross.
Not even two hours had passed when he was found by a violent legionary. Alexius began to run away, closely followed by the berserk. He tripped and fell. The man rose his spear. And petrified. Alexius too, and the entire city, as well.
The mountain wasn't a mountain, as Alexius had thought. It was a vulcan; the city was Pompey, and the year was 79 a.D. .

03 abril 2009

Huh... sorry, I guess.

Indeed, I really don't know what I'm doing. Again. And again. And again.
However, it was very good to meet you. And it is.
I'm sorry to use this sentence (I'm almost like my grandma', after all), but I'm just sixteen. Or seventeen; it won't make a big difference. -Yes, I'm trying to justify my lack of knowledge and full awkwardness at the subject; sorry about that.
Well, I think that's it. For now.
I sincerely think I haven't "arrived" at a good time. I'll write later 'bout it. Probably.

29 março 2009

Olhos nos olhos [quero ver... o que você faz]

eu não faço nada, nem mesmo consigo desviar os olhos. é tipo magnético, saca?
eu só fico olhando, e vendo você me ver. e é isso.

na verdade, tenho medo de acreditar no que eu possa ter visto através deles.

I want you so bad...

It's driving me mad...
it's driving me


e eu sei o tanto de egoísmo que contém este assunto. e o tanto de pontos delicados que ele envolve.

27 março 2009

Once upon a time there was a flyin' cat

Quando eu reparo na instabilidade de tudo (e obviamente, isso me inclui), me sinto um pouco...
..como dizer...
desequilibrada..?

22 março 2009

humpf.

"You're so naive! After a while they always get it, they always reach a sorry end..."
Lasciami capire: Io devo fare tutto? Perché tu vuoi, io devo fare le azioni? Io devo arrivare, attaccare la conversazione, magari lesionarti con qualcosa que neanch'io so se io voglio? Sai, non'è un po' strano? E penso che tutte le persone pensano che io devo infatti fare questo. Ma, cazzo, non ci vuoi tu? Dai, che palle!

17 março 2009

Bell'nd Sebastian

Ooh! Get me away from here I'm dying Play me a song to set me free Nobody writes them like they used to So it may as well be me Here on my own now after hours Here on my own now on a bus Think of it this way You could either be successful or be us With our winning smiles, and us With our catchy tunes, and us Now we're photogenic You know, we don't stand a chance... Oh, I'll settle down with some old story About a boy who's just like me Thought there was love in everything and everyone You're so naive! After a while they always get it They always reach a sorry end Still it was worth it as I turned the pages solemnly, and then With a winning smile, the boy With naivety succeeds At the final moment, I cried I always cry at endings Oh, that wasn't what I meant to say at all From where I'm sitting, rain Washing against the lonely tenement Has set my mind to wander Into the windows of my lovers They never know unless I write "This is no declaration, I just thought I'd let you know goodbye" Said the hero in the story "It is mightier than swords I could kill you sure But I could only make you cry with these words" .

26 fevereiro 2009

Giornalismo Caotico

Seis 'quem', seis 'o quê', seis 'onde', seis 'quando', infinitos porquês e quatro lances de d6.

Resultado
Chi: un barbone
Che: una protesta
Dove: per strada
Quando: ieri all'ora di pranzo
Perché: ?

__La protesta di ieri è stata probabilmente la più bizzarra di tutta la storia di nostro paese. Era un bel giorno di sole, perciò moltissime persone erano sulla spiaggia di San Franceso di Assisi. Secondo i testimoni, un gruppo di turisti, all'improvviso un vecchio barbone ha cominciato a urlare e sgambettare sul pavimento della strada (via Florale, vicino al faro) perché un ragazzo di questo gruppo ha buttato via sulla strada un sacco di confezioni alimentari aperte e non finite. La giapponese Koizumi Miyakashi, 24, ha dichiarato: "L'effetto di quelle urla si è sentito subito; era come se tutti gli abitanti fossero diventati attori cantanti di un Musical - loro hanno cominciato a cantare un inno ed a riunirsi nella via... Subito dopo tutti hanno cominciato a camminare, guidando la nostra escurzione fino a un grande terrapieno, ancora cantando quella canzione. La guida mi ha detto che la musica parlava della natura (...)".
__Sappiamo adesso che la canzione parlava de riciclaggio e della coscienza degli uomini per l'ambiente. Abbiamo anche informazione che sarebbe cominciata dopo quel pranzo una conferenza ambientale (gratuita) sulla cura della natura nelle città moderne, organizzata dalla Società Paceverde.
__Questa inusitata protesta ha scatenato alcune manifestazioni in diversi paesi del mondo. Che dire!

25 fevereiro 2009

isso nunca tinha acontecido.

...digo, nunca havia me dado conta (até ontem, ao fechar os olhos no escuro) de como a escuridão é estática.
ok, isso é óbvio.
I mean... deitada daquele jeito, eu podia até senti-lo do meu lado, no escuro, com o braço me servindo de travesseiro; podia ouvir sua respiração morna.
ou talvez eu simplesmente estivesse começando a dormir. ou a alucinar.
quiçá.

22 fevereiro 2009

bullets.

(...) não me diga que me ama
não me queira
não me afague
sentimento pegue-pague
emoção compre em tabletes
mastigue como um chiclete
e jogue fora na sarjeta
(quem vai querer comprar banana)
compre o ódio do futuro
cheque para trinta dias
nosso plano de seguro
cobre a sua carência
eu perdi o paraíso
mas ganhei inteligência
demência
felicidade
propriedade privada
não se prive
não se prove
don't tell me 'peace and love'
tome logo um engov pra curar sua ressaca
da modernidade
essa
armadilha matilha de cães raivosos e assustados
o presente não devolve o troco do passado
sofrimento não é amargura
tristeza não é pecado
lugar de ser feliz não é supermercado. (...)

17 fevereiro 2009

Um Conto a Quatro Mãos (XVI)

Hallellujah! For the Lord God omnipotent reigneth
The kingdom of this world is become the kingdom of our Lord,
And of His Christ, and He shall reign for ever and ever
King of kings, and Lord of lords. Hallellujah!
_

__Por ali andaram; por aqui passaram; por acolá se empoeiraram, e para adiante se encaminharam, com a galante bengala da Anfitrião a toque-tocar o chão.
Toc, toc.
__
Monami permaneceu na guarda-reta, a raciocinar sobre toda aquela situação; mas algo não parecia funcionar – seu leviano corpo sofria uma pressão interintensa enquanto seus botões começavam a dizer-lhe algo que parecia fazer sentido, ele se sentia a ponto de fazer ‘poc’ e sumir dali –, e aparentemente era tão engraçado que a garota-Sarah em vão tentava esconder seu hi-hi-hiso, e isso o fazia explodir a bolha de sua reflexão (e implodia a in-pressão).

Toc, toc.
__Meinfreud começou a estranhar quando o grande amontoado de brinquedos quiquacarejantes deu espaço a uma escolta enfileirada de choldadinhos de sumbo, de baionetas na mão e canções gregorianas nos lábios rijos. Até então somente o ambiente havia mudado (já havia sido deserto, litoral, cidade, pântano) como se de repente fosse e fazendo-o acreditar que jamais teria sido de outra forma.
“Pa(toc)-ter(toc) no(toc)-os-ter
Qui(toc) es(toc) in cae(toc)-lis,
San(toc)-cti(toc)-fi-ce(toc)-tur(toc) no(toc)-mem(toc) tu(toc)-um...”
__E de improviso, ele não estava mais contornando uma plantação de arroz – ele nunca estivera em plantação de arroz coisíssima nenhuma, em lugar nenhum se não contornando aquela enorme catedral e entrando pelos corredores laterais.
__Meuamigo inchou.
__Haveria ele saído dali, por algum breve instante? A resposta parecia óbvia em sua mente inflada. Não. Era claro; ele jamais saíra dali.
__A luz tímida do alvorecer penetrava pelos belos vitrais de são Jorge cavalgando o santo dragão segurando uma fulgurante espada de fogo, sorrindo vitoriosamente para subjugar um batalhão de anjos aterrorizados que gaguejava Gloria in excelsis Deo. Um penetrante cheiro de sangue fresco estuprou suas narinas tão profissionalmente quanto um incenso de jasmins.
Toc, toc.

08 fevereiro 2009

boca chiusa.

__Uma música soava, a escorrer notas beliscadas de um violão virtual. A sensação, no entanto, era diversa. Era como se ela fosse um órgão (daqueles de centenas de tubos gélidos como seus pés e mãos) e em seu interior estivesse algo esticado, afinado e a ser beliscado por aqueles dedos - (que ela não se lembrava mais como pareciam quando os sentira) confundidos com o ambiente sem luz - e que toda aquela ressonância era pedalada pela tomada e despejava-se pelas efêmeras caixas de som.
__De como as vibrações iam parar naqueles buraquinhos palpitantes, era o mesmo mistério de sua infância, quando ela encarava aqueles imponentes canos de metal nas paredes sacrílegas e se punha a procurar as teclas, o banquinho, os pedais... sempre fora um esforço vão. E dentro dela ele continuava a dedilhá-la como se ela fosse um violão, e em sua cabeça ecoava seu murmúrio morno.

O que será que me dá, que me bole por dentro, será que me dá...

03 fevereiro 2009

The Drawing of the Three.

__"I make you want to puke."
__"That's affirmative."
__"Oh boy," Eddie said. "I love it. I'm sitting here in a little room and I've got nothing on but my underwear and there's seven guys around me with guns on their hips and make you want to puke? Man, you have got a problem."
__Eddie took a step toward him. The Customs guy held his ground for a moment, and then something in Eddie's eyes — a crazy color that seemed half-hazel, half-blue — made him step back against his will.
__"I'M NOT CARRYING!" Eddie roared. "QUIT NOW! JUST QUIT! LET ME ALONE!"

(...)

__As Eddie watched, one of the horrors reached up, lightning quick, and snared a sea-bird which happened to swoop; too close to the beach. The thing fell to the sand in two bloody, spraying chunks. The parts were covered by the shelled horrors even before they had stopped twitching. A single white feather drifted up. A claw snatched it down.
__Holy Christ, Eddie thought numbly. Look at those snappers.
__"Why do you keep looking back there?" the guy in charge had asked.
__"From time to time I need an antidote," Eddie said.
__"From what?"
__"Your face."

S. King

31 janeiro 2009

estranhices.

__Ali, imersa naquele mar de pessoas desconhecidas, naquele lugar quase aleatório (friso o quase), estava uma garota – também desconhecida por todos – parecendo meio confusa. Ela se sentia como se um bolo de bosta grande demais tentasse passar pelo intestino, a dar aquela sensação de desconforto deslizando pelo abdômen. Ela estivera acompanhada por um casal que não parecia menos estranho; mas eles haviam entrado num portal sugador de gente, enquanto o pássaro-de-ferro que a sugaria se recusava a abrir a boca.
__Ela cantou baixinho, perambulou pelo corredor apinhado, foi ao banheiro; mas o nó não afrouxava, e a porra do avião não chamava para o embarque.
__Depois de mais músicas sussurradas, incontáveis pequenos gestos de impaciência, ela entrou, e assim que se acomodou no seu respectivo assento, o nó pareceu se dissolver; abstraindo a parte do estar a milhares de quilômetros longe, era como pegar um ônibus para a casa dos avós. A flying bus, indeed (and not for the grandpa’s house).
__Ela até dormiu (e acordou com a garganta a ranger de secura), comeu, leu, sentiu náuseas no ‘aterramento’ – tudo como de praxe. Nada muito fora do lugar, exceto a ausência do casal estranho.
__Ninguém a barrou, e alguns até a ajudaram com aquela mala quase do seu tamanho. O trem voou sobre os trilhos, o taxista falou bastante e ela chegou na casa de mais uma desconhecida (por ora), onde falou uma língua não-materna, com zilhões de erros e inconveniências; mas essa garota – nem tão desconhecida assim, para alguns – chegou no destino, sem extraviações de qualquer tipo.. nem mesmo de pasta de dente.
__E essa garota era eu (prazer).
PS. Hoje foi um dia estranho.

20 janeiro 2009

19 janeiro 2009

pésapados se emplastravam pelas poças, apressados; as pessoas passavam pela praça, expurgando nuvens mornas no ar.

um violão faceiro soava, debaixo do som da chuva.




pés
sapatos

fardos
pesados

fados

08 janeiro 2009

The Death of Maes Hughes

__Pluft Pong, é assim que Elysia Hughes me chama. Meço três palmos e meio, o que corresponde a sete décimos do tamanho de Ellie. Ao contrário dela - com seus seis invernos e alguns meses -, não tenho idade. Ela me fez branco como neve e sem um fio de cabelo sequer. Deu-me um chapéu cônico alvo como minha pele, vestiu-me com uma camisa e um bermuda de suspensórios, também brancos. Achou graça me colocar um enorme nariz redondo vermelho (parece que tenho um tomate no rosto) e me espremeu o máximo que conseguiu, de modo que eu me tornei um serzinho magricela e mirrado... mas, fazer o quê. Ela quis me fazer assim, então assim vim.
__Cheguei ao seu lado em meados do ano passado, quando o pai de Ellie começou a passar menos tempo em casa e mais tempo no trabalho. Nada indicava que ele estava fazendo algo arriscado. Como se amavam, esses dois... estavam sempre grudados como aquelas bolinhas de plantas que encarrapicham nas nossas roupas. Acho que só surgi porque Ellie precisava de companhia, durante as tardes que esperava o pai, brincando com formigas no jardim ou desenhando com giz na calçada. Eu sempre ria da mania de Maes de falar de seu tesourinho no telefone para desviar dos assuntos indesejados e despertar a fúria de seus superiores. Gracie, esposa de Maes Hughes, era muito carinhosa e atenciosa, mas me impressionava o carinho e alegria que pai e filha compartilhavam. Sempre era deixado de lado quando, ao cair da noite, Ellie corria escadas abaixo assim que ouvia a porta se abrir; mas nunca dei muita atenção para isso, adorava vê-los rolando juntos pelo tapete enquanto a graciosa mãe tricotava alguma coisa, com o tímido sorriso no canto da boca. Toda noite, depois do jantar, Maes levava Ellie no colo para a cama, onde contava histórias de brinquedos que criavam vida a noite. Assim que ele deixava o quarto, me acomodava entre os bracinhos de Elysia até o dia raiar.
__Mas houve então um fatídico dia, um triste dia. Maes saíra para trabalhar, no horário habitual. Ellie não notara, mas ele parecia um pouco mais tenso que o normal, embora sua face sempre se suavizasse ao observar nosso pequeno tesouro saltitante. Volta e meia passava a mão pelo escuro cabelo despenteadamente espetado ou ajeitava os óculos faiscantes. Ele deixou a casa. Brinquei com Elysia toda a tarde debaixo de sua cama, e a noite, dentro da banheira. A lua chegou, soergueu-se com sua cara redonda e branca (como a minha), encarando nossa casa com placidez.
__Depois do jantar, Ellie sentou-se numa poltrona ao lado da lareira e ficou olhando pela janela, comigo encarrapitado do parapeito (embora ela estivesse cerrada, penso que já mencionei minha silhueta). Esperávamos Maes. O tempo passou, tiquetaqueado pelo cuco e pelas afiadas agulhas de tricô de Gracie. Depois de um longo tempo, Gracie pegou o corpinho adormecido de Ellie e levou até nosso quarto, no andar de cima. Depositou-a com carinho embaixo das cobertas, deu-lhe um leve beijo na testa e se virou para sair do quarto enquanto eu me aconchegava entre os bracinhos de Ellie.
__Era meio da madrugada quando alguém bateu em nossa casa. Ouvi as pantufas da mãe arrastando pelos tacos de madeira, oscilantes. Desenlacei-me da pequena e preocupado, saí pela porta entreaberta. Escalei o topo do corrimão e com uma pequena empurradela, deslizei escada abaixo, caindo com leveza ao lado das canelas de Gracie. A porta estava aberta e do lado de fora havia um oficial com o mesmo uniforme de Maes. Ele murmurara algo enquanto eu aterrissava, mas tudo o que foi um soluço estrangulado da pobre mãe, e, ao olhar para cima, a vi de olhos arregalados, as mãos em concha na frente dos lábios e uma torrente de lágrimas escorrendo até o queixo e gotejando. Uma dessas gotas caiu em meu nariz. O homem colocou a mão no ombro da jovem viúva, num gesto que misturava genuína compaixão com um toque de automaticidade. Impactado, escalei as escadas e retornei aos braços de Ellie, onde aguardei que acordasse.
(...)

04 janeiro 2009

( . )

I feel empty.
It came so suddenly...

03 janeiro 2009

Kitty, kitty...

__Já estava tarde. Era a luz do poste que fraquejava diante da madrugada em potencial, ou eram os olhos obnubilados de Ray que pestanejavam como se arfassem dolorosamente. Ele se recostou na porta corrida de uma loja, fazendo um ruído de sofrimento metálico. Fez uma careta de insatisfação com o barulho e escorregou pela porta pichada até sentar-se. Ainda segurava uma garrafa semi-vazia de uísque, que levara embora ao sair aos uivos da casa da namorada.
__Seu estômago revirava-se, sua garganta ardia. Mesmo assim, aproximou o bocal e sorveu o líquido. Em seguida, arrotou. Suas pernas estavam trôpegas, e ele resolveu não tentar se levantar. Já não havia ninguém na rua, nem mesmo os costumeiros sem-teto. Ray suspirou e olhou para cima. O céu parecia veludo negro, não havia nenhuma estrela à vista; nem mesmo a lua sorria. Fechou os olhos e apoiou a cabeça na porta, que gemeu mais um pouco.

__Alguém que passasse por ali veria um jovem na faixa dos dezenove anos, vestindo jeans surrados, tênis imundos, com cabelos desgrenhados confundindo-se com a camiseta preta. Em sua mão jazia uma garrafa quase vazia.

__“Hello, Ray.”
__Ele abriu os olhos. Sua visão estava embaçada, então pestanejou algumas vezes, concentrando-se em discernir quem lhe falara. Defronte de si não havia ninguém, nem dos seus lados. Pela rua vinha vindo um pequeno vulto, andando sem pressa. Ray franziu a testa. It was a cat.
__ Ele bufou enquanto passava a mão pela testa, afastando os cabelos acortinados do hematoma que se alastrara pela maçã do seu rosto.
__“Are you trying to avoid me? What a silly boy…” The voice was closer, although nobody was there. E por que raios alguém estaria falando inglês, em plena Francisco Glicério, de madrugada?
__Ray tentou levantar-se, apoiando na indignada porta comercial. Ela guinchou. Seu cérebro registrou uma considerável mudança na viscosidade do chão, traiçoeiramente balouçante.
(...)

01 janeiro 2009

All is quiet, on new year's day...

__He whispers in my ears with softly kindness. The rain shuts up the fireworks's booms, and a low sound of an harmonica echoes, smoothly. No one stayed in the flats, all of them had rather go to the beach, jump seven (in the case of Laerte's God, only six, 'cause He rests in the seventh) waves.
__The world began, again. And I'm just here, quite reckless about the blow of events, just having tickles in my ears, wondering about something rather inconceivable.
__This almost emptyness of thoughts, this sensation of floating in something warm and velvet is quite pleasant, even with a touch of gloom.