29 março 2008

Um Conto a Quatro Mãos (X)

'Good morning, good morning, Dear!'
Sarah abriu os olhos. Um metrônomo tiquetaqueava abafado, em um ambiente outro.
Em dilúvio, est(r)alou as mãos, pescoço maxilar pulsos cotovelos vértebras virilha joelho, tornozelo e finalmente os dedos do pé. Suspirou de alívio, sorrindo para o teto sóbrio.
Soergueu-se da cama. O lençol escorregou pela pele lisa, oculta sob o véu do breu.
Pantufas, pantufas... pantufas? Ah, sim, aqui estão as pantufas. Agora, a camiseta.
Vestindo uma enorme camiseta e um par de pantufas felpudas, Sarah apanhou seu bloco de desenho, um lápis e saiu para o corredor. Tec tec tec tec.

Nuvens prateadas voejavam a sua volta, como lontras dentro d'água. O Anfitriã encarava-o empoleirado num pico à distância, com a bengala fazendo um elegante ângulo agudo com seus pés.
As nuvens se dissipavam, retornando a um cenário escuro. Um leve risquejar sub-traíra o silêncio. O moço entreabriu as pestanas secas e uma silhueta borrada se destacou do ambiente escuro, debruçada sobre o colo.
A um resmungo seu, o vulto assustou-se e sumiu feito animal silvestre.
O pobre moço, envolto em bandagens, virou para o outro lado e dormiu.
E sonhou com as sebes altas e sussurrantes, regadas a singelas melodias de um cravo bem temperado.

A Anfitrião saía do quarto amarrando seu roupão para buscar um uísque quando Sarah passou apressada com seu tão familiar bloco de desenho na mão. Era cedo para a Pequena empipocar por aí. El' assistiu-a um pouco até ouvir um bip prolongado vindo do escritório.
Arrancou o longo papel de poucos caracteres da boca do fax, sorvendo o conteúdo - líquido e gráfico - com um ar grave. Logo após de passar os olhos pelo vômito maquinal, abriu uma gaveta e queimou-o com um isqueiro de prata.



(desculpem-me a demora)

12 março 2008

Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street

Estive na quarta-feira passada no Kinoplex para assistir o musical "Sweeney Todd", dada a grande incidência de comentários favoráveis, e o meu interesse no filme (elenco, enredo...)
"SYNOPSIS: Johnny Depp and Tim Burton join forces again in a big-screen adaptation of Stephen Sondheim's award-winning musical thriller "Sweeney Todd." Depp stars in the title role as a man unjustly sent to prison who vows revenge, not only for that cruel punishment, but for the devastating consequences of what happened to his wife and daughter. When he returns to reopen his barber shop, Sweeney Todd becomes the Demon Barber of Fleet Street who "shaved the heads of gentlemen who never thereafter were heard from again." Joining Depp is Helena Bonham Carter as Mrs. Lovett, Sweeney's amorous accomplice, who creates diabolical meat pies. The cast also includes Alan Rickman, who portrays the evil Judge Turpin, who sends Sweeney to prison and Timothy Spall as the Judge's wicked associate Beadle Bamford and Sacha Baron Cohen is a rival barber, the flamboyant Signor Adolfo Pirelli. [Site Oficial]"

Certo, terminada a sessão, estava eu convencida de acabar de ter assistido um filme 'ultra-romântico' (Segunda Geração do Romantismo). O fato de estar vendo esta escola artística em literatura só me encheu de evidências, que exponho a seguir. (As pessoas que estiverem interessadas em assistir o filme sem spoilers, não leiam o que vem abaixo)
  • Presença da Mulher Romântica
A esposa de Benjamin Barker (Mr. Todd) - Lucy Barker, é de constituição frágil, pele branca, delicada, educada. Só faltava ser doente, coisa que sucede ao longo de sua vida, depois de seu envenenamento (vê-se no seu rosto de mendiga).
A filha de Barker - Johanna, segue o mesmo tipo estético da mãe ->
  • Pai (da jovem) Autoritário
Embora não seja propriamente o pai, o Juiz Turpin, responsável pela jovem Johanna, é um homem extremamente severo e autoritário, que mantém sua protegida trancafiada em casa.
  • Sublime x Grotesco
O filme contém diversos trechos, mas tomarei somente um.
Benjamin Barker x Sweeney Todd -> a mesma personagem, embora em fases distintas. Barker era um homem (como Todd menciona) tolo ["foolish barber"] (feliz ao lado de sua mulher e recém-nascida filha, de aparência saudável e considerado homem bonito (pelo senso comum). Sweeney Todd, por outro lado, era um homem deteriorado, amargo e 'louco'.
  • Egocentrismo
A obsessão de matar o juiz Turpin é uma delas, assim como a decisão de Mrs. Lovett de não contar o paradeiro de Lucy Barker, ou até mesmo o desejo do jovem marinheiro Anthony de seqüestrar Johanna para fugir com ela.
  • Supervalorização do sentimento
    • Ódio
A obsessão de vingança de Sweeney Todd pelo Juiz Turpin, que lhe roubou a vida, que se alastra pelo ódio pela raça humana, levando-o a matar todos os seus clientes.
    • Amor ("O Amor pode tudo")
O Amor à primeira vista de Anthony por Johanna, que o leva a apanhar, a formular modos de seqüestrá-la, a se passar de assistente de peruqueiro para resgatá-la num manicômio. E no fim, dentre os personagens, Anthony e Johanna são os únicos que sobrevivem para fugir de Londres juntos.
  • Escapismo: morte/loucura
Mr. Todd torna-se indiscutivelmente desequilibrado mentalmente depois de quinze anos na prisão por crime que não cometera. São vários os momentos no filme que Mrs. Lovett o impede de tomar atitudes precipitadas em virtude de sua obsessão. Fora isso, as últimas cenas do filme são um homicídio massivo, onde Mrs. Lovett, S. Todd, Lucy Barker, Turpin e Timothy Spall morrem.
  • Fotografia do filme:
Predominância do filtro azulado -> muito contraste entre o Claro x Escuro e vermelho extremamente chocante

Infelizmente, não posso comentar a trilha sonora =)
e por hoje é só.