12 maio 2009

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Alice pestanejou uma, duas, três vezes. A visão teimava em continuar fora de foco, mas o neurótico despertador apitava cada vez mais alto, e ela não queria acordar o pai, que dormia no quarto ao lado. Tateou o criado-mudo em busca do celular, que guinchava e vibrava sobre o tampo de madeira. Desligou-o. Espiou pela janela ao lado da escrivaninha: mal amanhecera, o céu ainda estava naquele cinza indistinto que pode ser tanto prenúncio de chuva como de um dia qualquer, normal, meio azulado - sabe como é... abril é um mês espacialmente azul, ainda mais em um país onde as folhas não caem no outono. Resmungou um pouquinho e se levantou.

Pedindo licença ao professor para entrar, apressou-se para a sua mesa, fazendo sua saudação tímida de atrasada. Os olhos custavam a focar-se no professor, e logo ela deixou de prestar atenção, desenhando lânguidas formas em seu caderno, em cima de uma longa explicação de botânica.

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