28 outubro 2007

"Desde que o Samba é Samba é Assim"

Ontem estava me lembrando o que um moço aí me disse sobre estudar um instrumento, quando estava sentada em frente ao piano. Ele me disse que estudar aquele instrumento o acalmava. Lembro também que comentei que não conseguia tocar quando estava aflita, ou com algum sentimento muito intenso. Me desconcentro, funciono mais devagar, não penso... Sai tudo errado. Sei lá.
Mas hoje, justo hoje, com esta prezada pessoa afastada, longe, excessivamente forasteira, consegui me acalmar ao som das minhas mãos frenéticas correndo pelo teclado, tentando com uma certa dose de frustração executar uma peça de Chopin, uma tal de "Valsa Brillante" (número não-sei-das-quantas). Foi algo aliviante, como quando consegui fazer um melisma certo, com a maldita corrente de ar apoiada. Uma coisa sem querer, desavisada e alentadora. Foi terapêutico. Bom. Estava tão tristonha, sem notícias, nada além de um apático e-mail mal humorado. "Cantando eu mando a tristeza embora" diz Caetano, Ele diz "Tocando eu mando a tristeza embora" e por um tênue momento, consegui assentir.
A tristeza aflita e culposa tornou numa serenidade incômoda. E cá estou eu, na minha aflitividade desabafada, sem surdina, entendendo essas desventuras e bichos estranhos que somos;nozes (macadâmias de preferência).

27 outubro 2007

Meus ombros, se precisar.
Meu olhar, se quiser ver.
Minhas mãos, se te perder.
Meu sorrir, se te faltar.

Minha mente, a te buscar.
Meus sonhos, a te cobrir.
Meu peito, a te seguir.
Minha alma, a te velar.

Meu choro, se te secar.
Minhas pernas, se quer ir.
Minha riso, se quiser vir.
Meus braços, se tropeçar.

Minha face, pra apertar.
Meu dedo, pr'em ti escrever
Meu colo, pra esqueçer
Meu canto, pra te ninar.

Se teu corpo todo não aguentar
O mundo a rodar e a vida a cerzir,
E, exausto, quiser fugir, cair...

Teras meu corpo todo, a te apoiar.

(28/09/2006) - Márcus Vinicius

16 outubro 2007

Abismos.

É abismante como a sutileza e captação de detalhes pode fazer ou estragar seu dia. Realmente me assombro com este tipo de coisa, que insiste em revolver meu dia numa avalanche bipolar de humor. Às vezes basta-lhe um olhar diferente, uma réplica enviesada, um gesto de descaso ou uma simples falta de comunicação para me lançar numa infelicidade e melancolia que muitas vezes ninguém nota. Chega a ser engraçado. E dói um bocado saber o que magoa é tão aleatório e trivial que nenhuma pessoa ao redor deu atenção, ou se deu, ignorou de uma forma tão esplendorosa que dispensa maiores comentários.
Assim como existem coisas bobas que insistem ferrenhamente a lhe deixar radiante. Uma gentileza, um sorriso sincero, uma música que ansiou por ouvir todo o dia, uma brisa fresca nesses dias insuportáveis de pseudo-primavera (ou uma sombra e água fresca), um gosto bom...
Quando olho para o resto, raramente consigo ver a mesma sensação que tenho. Recai uma fragilidade sobre meus ombros que me deixa desamparada. Tem tantas coisas bonitas, mesmo na feiúra. A me sembra che le persone non capiscono che il bello e il brutto sono la stessa cosa.
É como a tarde em que dei de comer ao Netuno. Vocês não entenderiam o que foi aquilo.

09 outubro 2007

Cuco. Cuco. Cuco.


____tic
tac___________
tic__
__________tac.

05 outubro 2007

De repente, não mais que de repente...

Assim, rápido, silencioso e sorrateiro, ele se infiltrou, feito gás tóxico deslizando por debaixo da soleira da porta. Depressa, sem delongas e sem misericórdia. Num segundo, estava tudo vazio.
Vazio? Deserto como uma casa recém-construída, intacto e decadente. Oco, ausente. Eu saí para dar uma volta, sem ao menos um aviso. De súbito, sumira eu de mim mesma.

Carcaça letárgica, tentando escrever algo que tenha nexo e faça sentido. O cérebro não quer, está cansado, exausto, pesado, mas não sonolento. Aturdidamente, tento executar sinapses, mas nada. É o tipo de coisa que não se faz conscientemente, protesta o cérebro. Mal o escuto, estou longe...

Caminho por chão que não vejo, por lugares que não sinto, não ouço e não ouso dizer. A volta é algo que parece um mero detalhe, embora o corpo clame pela mente que vaga.

Cogumelos proliferam ali, brisas sussurram lá, meu dedo tecla aqui.

E eu vou espirrar.