31 maio 2016

Abri as janelas e acendi o cigarro. Venta muito.

No prédio à frente há uma mulher parada diante da janela. A janela parece fechada, seus cabelos não se movem. Ela come algo de uma cuia, com palitos.

Hashi, me sussurra Ab. Aquiesço, me desvencilhando de sua lembrança.
Hashis, then.

Ela olha fixamente para algum ponto, encolhida como que fustigada pelo vento. Do lado de fora.

Dentro do seu aquário, ri Ab. Te lembra alguém?

Não me dou ao trabalho de responder.

Até as olheiras, Sib, olha ali...

Aham. Amasso a bituca e largo no parapeito. Fechando a janela para entrar, vejo-a pela última vez, imóvel, olhando para o nada.

Pior que parecia mesmo.

02 maio 2016

Já não há mais coração

A cólica reprimida pelos comprimidos, a dor das amígdalas pelo ardido do gengibre mascado, a dos ouvidos pela

zabumba q'bumba esquisito
batendo dentro do peito

Mas o tempo não se deixa enganar. Ele não sai pipocando atrás dos aflitos; segue seu próprio ritmo, e deixa a gente, iludido, achando que não tem jeito, que é assim mesmo.

E as dores abafadas como o trânsito do lado de lá do vidro. Presentes. Latentes.