29 janeiro 2008

Um Conto a Quatro Mãos (IV)

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E a história segue... Aqui e Acolá

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___(...) Estava alentando seu corpo que já fremia de dor antecipada pelo esforço quando parou, em tempo. Encarou a porta de cima a baixo, como fazia com as ninfas que pertenciam à outro solo sagrado. Sair pela porta da frente? Pouco perspicaz.
___Deu meia volta, sendo então tragado pela escuridão das naves laterais. Suas pernas já se livravam do entorpecido espanto de ainda estarem funcionando e forneciam, pouco a pouco, passadas mais vigorosas e seguras de sua potência. Tropeçando aqui e ali, ele localizou uma porta coadjuvante e sua respectiva tranca. Com um cadeado.
___O moço praguejou, surpreso pelo lapso de raciocínio em não considerar que a saída poderia estar trancada. Não o desejavam vivo, ponderou, não havia sido apenas um entusiasmo descontrolado no incentivo.
___Foi então que ele ouviu um tropel cadenciado de passos. Seu sangue solidificou a ponto de se mover centímetro por centímetro de acordo com o staccato cardíaco simétrico aos pés alheios. Olhou em volta e viu o vulto de um santo serenamente imóvel ao seu lado, portando uma lança. Pousou sua mão em volta dela. Era de madeira e ferro. Arrancou-a dos braços divinizados e atacou o cadeado, antiquíssimo por sinal. Seu coração foi derretendo e acelerando conforme ele ouvia os passos apressarem em direção ao guincho metálico.
___Sem demora o cadeado cedeu e o moço jogou a lança para o alto, abrindo impetuosamente a porta pesada a atravessando-a.
___'Ah, não...' sibilou, amuado e infeliz, quandou mirou altas sebes labirínticas e serpenteantes. Ouviu um baque seco atrás de si e ao voltar-se viu que saíra de uma passagem que desvanecia entre as folhas impecavelmente podadas.

16 janeiro 2008

Um Conto a Quatro Mãos (II)

Convido-os a observarem uma escrita experimental a quatro mãos e dois cérebros. Aqui segue a continuação do texto que iniciado no blog 'Amortescimento' pelo ilustríssimo Tuma. Desfrutem se tiverem paciência ;)
Seguiremos com esse projeto indefinidamente, aqui e acolá, então, sorte aos navegantes!

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___(...) A coroa de espinhos do moço pregado mais adiante e o oceano de caquinhos bruxuleantes vítreos no jovem moço. O sofrimento palpável por cegos em comunhão entre seus semblantes inanimados, onde o silêncio emanava putrefato por entre as homofônicas colunas de blocos harmônicos perfeitamente pétreos. Haviam rasgos escarlates na carne branca-rosada tenra como a barriga de uma tartaruga filhote que se arrasta na lixa molhada de areia. Rasgos ferinos sorridentes sulcados naquela alvura resplandecente, cadavérica como o silêncio, eles se mexiam ao resfolegar suave do corpo caído (discípulos daquele tal de Lucifer? o pobre coitado que caiu primeiro e muito mais do que aquele ali, estatelado no interior úmido da casa de Deus).
___Passou-se um tempo, mal percebido pela catedral centenária indignada e ferida, muito menos pelos santos pintados e esculpidos que o quedado confundira com pessoas falantes que se aglomeravam ao seu redor feito leucócitos em volta de microrganismos invasores. Meros instantes trincados quebrados em segundos como aqueles caquinhos que floresceram ao redor do moço desmaiado. Após este tempo, os fragmentos translúcidos ondularam num sussurrar suave e o moço, aquele lá no meio daquela vidraçaiada toda, se mexeu resmungou xingou e sentou, chiando de dor por aqueles pedacinhos pontiagudos cutucarem seus glúteos magoados e humilhados com sádica determinação. E escorreu mais tempo até aquele infeliz resolver botar-se de pé e cambaleante torto rasgado e furado dar seus primeiros passos adiante - conceito muito relativo para alguém que mal enxerga por onde anda, com todo aquele sangue meio envidraçado cintilando no rosto. Ele, todavia, andou.