19 março 2011

The moment after.

Arfadas no escuro. Como se olhos fossem se acostumando ao breu, distinguem-se vultos. Dois eram eles.
Ouve-se um lento resfolegar no quarto ao lado - o terceiro ronca.
Um dos respirares acalma-se aos poucos. O outro suga, desesperado, cada vez mais ar.
'Tá tudo bem aí?' pergunta a primeira.
O segundo ofega, chia, angustia.
'Ei, o que houve?'
Ele tenta se sentar, arquejando pesadamente. A primeira se levanta rápida, desajeitada, acende a luz. O corpo nu na luz amarela, a pele sem pelo, os seios pequenos e arrepiados da primeira viagem, o olhar de pânico. O primeiro, do outro lado da cama, de silhueta magra e comprida (mal saída do estirão), convulsa, a arfar frases entrecortadas, ininteligíveis.
'...-binha de As-...'
A primeira veste a camiseta do segundo, caça sua calcinha (acha-a do outro lado do quarto); abre a porta aos trancos e sai.
Pancadas aflitas na porta do quarto ao lado.
'Escuta, tem alguma coisa acontecendo com o seu filho! Ele está asfixiando! (merda, merda!)'
O ressonar pára. Acende-se uma luz por debaixo da porta.
Um sussurro.
'Ai, caralho.'

05 março 2011

kunderismos.

"É, agora eu via isso com clareza: a maioria das pessoas se entrega à miragem de uma dupla crença: acredita na perenidade da memória (dos homens, das coisas, dos atos, das nações) e na possibilidade de reparar (os atos, os erros, os pecados, as injustiças). Uma é tão falsa quanto a outra. A verdade se situa justamente no oposto: tudo será esquecido e nada será reparado. O papel da reparação (tanto pela vingança quanto pelo perdão) será representado pelo esquecimento. Ninguém irá reparar as injustiças cometidas, mas todas as injustiças serão esquecidas."

03 março 2011

Alfama

Lei scendeva le scale in fretta, come se qualcosa la perseguisse, come se la pioggia non potesse più aspettare tra le nuvole grigie, come se i gradini fossero sparire, o forse come se quelle pietre fossero sciogliere sotto i suoi piedi.
Lei correva, e Portogallo singhiozzava.