27 janeiro 2013

Notte d'estate

É noite, e chove. A família entra em casa, vê a cachorra a esperar defronte à porta de vidro da sala. Ela molha-se.
A Filha percorre os corredores da casa (chega à sala oposta) com pressa; abre o piano e verifica uma nota que cantarolava. Si natural. Urra para o outro lado da casa e fecha o piano; o Pai, do outro lado, aquiesce aos gritos.
A cadela arranha a porta da área de serviço.
A Filha vai para o banheiro, tira as lentes do olho, lava o rosto. Segue então para o quarto. No escuro, ouve uma gota cair com estrépito. Tateia a parede e acende a luz. Há uma goteira. Põe o pijama e os chinelos e vai para a cozinha. A cã está encarando a porta, vê-se o contorno no vidro granulado. A Filha abre a porta para pegar um balde e a cachorra, feliz, pula. A garota afaga, fala com a pequena com voz aguda e imbecil, e percebe que ela está molhada. Suspira. Chega perto da casinha, e remexe na pilha de panos de chão. Escolhe um balde e apanha dois trapos. Seca a cachorra, que, extasiada, se eriça e se sente coçar.

Uma cã centrifugada, um balde e um pano na mão.
"Boa noite"
E fecha a porta. Bebe água, apaga a luz e segue para o quarto.