31 maio 2011

Into the wild (wild..?)

Quando aparecem cretinos demais na sua vida, mesmo que simplesmente resvalem na sua trajetória, você começa a se perguntar qual é a natureza humana.
Excessivamente pensado e sem nenhuma conclusão aparente, esse inferno de conceito só nos atrapalha - essa necessidade infeliz de rotular coisas e pessoas, essa obsessão por tipologias, por leis gerais. É frustrante não haver um modelo para observar e encaixar as pessoas, para facilitar a lida com seres estranhos.
É a cretinice dos apartamentos, das pizzarias, da lógica estúpida que parece reger essa sociedade que lhe leva a perder a fé na espécie humana, a achar que uma epidemia poderia resolver o problema do planeta. Aí você esbarra num rosto sorridente - num foco de resistência à babaquice extremamente contagiosa que assola o mundo - e respira fundo, estala as articulações e aceita que existem pessoas bacanas por aí.
A identificação do problema que nos acomete ainda não se deu. É a lógica individualista derivada do 'capitalismo selvagem'? É o distanciamento dos outros seres humanos, é o centramento na própria sobrevivência? Temos mesmo essa capacidade de agir como ser social, sem tentarmos nos massacrar (politica, cultural, social, economicamente..?)? É a intolerância com o próximo?
O que é? Qual é o nosso problema, saco?

30 maio 2011

Questão de Ordem - Jeff

gostaria de ter lido essa poesia no Sarau, mas não o havendo feito, coloco-a aqui.

(em memória do poeta revolucionário Roque Dalton)

Algo de mim se perdeu
por entre as pautas reivindicadas
quando foi não me lembro...
assembleias... reuniões... passeatas...

Algo de mim se perdeu
por entre as bandeiras levantadas
quando foi não me lembro...
conjunturas... estratégias... táticas...

Algo de mim se perdeu,
e não há nada,
absolutamente nada
em nenhuma ata...
(eu mesmo vasculhei exaustivamente os arquivos)

não se têm informes,
encaminhamentos,
palavras de ordem...
nada.
Apenas uma ausência
enorme constante programática?

Algo de mim se perdeu
por entre as questões ordinárias...
e pode soar ridículo, burguês e desagradavelmente
intimista,
mas sinto, camaradas,
que essa coisa perdida
era,
justamente,
a que me centralizava
(subversiva, clandestina, revolucionária).

26 maio 2011

é como se o mundo se descolasse.

16 maio 2011

Vorrei che le disillusioni smetessero de tormentarmi. Mi sono già stancata.

14 maio 2011

Every morning at sunrise, the sun shining through a church window reveals a message.

Costumeiro era o atraso
cenário míope atropelado
borrão de cores arrastadas
barulho frenético de roda enferrujada
o sacolejo do aro torto
me eram razões para esquecer do mundo
e me concentrar na fria perspectiva da matéria
da aula daquele professorzinho enfezado
estourador de faltas
tipologista de atrasos
infernizador dos amantes da segunda de manhã

pedalava descabelada
desabalada
pondo abaixo a ladeira
naquela derradeira manhã outonina
que, recostada nos batentes do inverno
suspirava densos nevoeiros

o sol, ainda baixo e tímido na umidade do dia
expelia luz, cegava, escandalizava o branco sujo da neblina
e oferecia uma igreja mirrada
encardida e espremida entre lojas (ainda fechadas) e letreiros intimidadores
expunha-a como troféu
como reduto
como (!) resistência
ao desenfreado avanço das rodas
à vida maquinal que arremetia por aros tortos e fagocitava o raciocínio.