22 setembro 2019

Tenho olhos

tenho olhos cansados
da luz desnuda dos corredores
e salas
intermitente pelos que vão e vem
- esses que às vezes se demoram
pelos umbrais
fazem hora
bloqueiam a claridade
e assim que se vão
ofuscam

too bright a sight.

tenho os olhos cansados
das telas das telas das
telas
das letras monitores e devices
de versos ocos
de Hefestos manco

meus olhos, de cansados
ardem
desfocam, embaçam
veem fantasmas pelos cantos
figuras e vultos impressos na retina
(esses nem sei se desbotam)
mas veem ipês escondidos
e pitangueiras em flor.
nessa hora, descansam

no mais, secam
no vapor árido dos escapamentos
latejam ao compasso dos freios
arranques e buzinas

pestanejam
fecham e
reabrem, cansados.

01 abril 2019

Libertate Kalea

A liberdade em Bilbao é uma rua estreita e
curta
onde não passa carros
nem mulheres de salto alto

os prédios são velhos e descascados
e não há muita luz
além das bitucas acesas dos transeuntes.

Cá os pedestres andam sem por reparo onde pisam
com a cabeça em seu destino
ou na roupa que deixou estendida
- não costuma chover em março
mas essa umidade...

o trânsito é esparso
sem cachorros ou pedintes
que preferem as ruas mais movimentadas

a liberdade, ali, é uma rua
miúda
um mísero quarteirão
que morre na rua dos fabricantes de guarda-chuva