03 janeiro 2009

Kitty, kitty...

__Já estava tarde. Era a luz do poste que fraquejava diante da madrugada em potencial, ou eram os olhos obnubilados de Ray que pestanejavam como se arfassem dolorosamente. Ele se recostou na porta corrida de uma loja, fazendo um ruído de sofrimento metálico. Fez uma careta de insatisfação com o barulho e escorregou pela porta pichada até sentar-se. Ainda segurava uma garrafa semi-vazia de uísque, que levara embora ao sair aos uivos da casa da namorada.
__Seu estômago revirava-se, sua garganta ardia. Mesmo assim, aproximou o bocal e sorveu o líquido. Em seguida, arrotou. Suas pernas estavam trôpegas, e ele resolveu não tentar se levantar. Já não havia ninguém na rua, nem mesmo os costumeiros sem-teto. Ray suspirou e olhou para cima. O céu parecia veludo negro, não havia nenhuma estrela à vista; nem mesmo a lua sorria. Fechou os olhos e apoiou a cabeça na porta, que gemeu mais um pouco.

__Alguém que passasse por ali veria um jovem na faixa dos dezenove anos, vestindo jeans surrados, tênis imundos, com cabelos desgrenhados confundindo-se com a camiseta preta. Em sua mão jazia uma garrafa quase vazia.

__“Hello, Ray.”
__Ele abriu os olhos. Sua visão estava embaçada, então pestanejou algumas vezes, concentrando-se em discernir quem lhe falara. Defronte de si não havia ninguém, nem dos seus lados. Pela rua vinha vindo um pequeno vulto, andando sem pressa. Ray franziu a testa. It was a cat.
__ Ele bufou enquanto passava a mão pela testa, afastando os cabelos acortinados do hematoma que se alastrara pela maçã do seu rosto.
__“Are you trying to avoid me? What a silly boy…” The voice was closer, although nobody was there. E por que raios alguém estaria falando inglês, em plena Francisco Glicério, de madrugada?
__Ray tentou levantar-se, apoiando na indignada porta comercial. Ela guinchou. Seu cérebro registrou uma considerável mudança na viscosidade do chão, traiçoeiramente balouçante.
(...)

Um comentário:

Anônimo disse...

Lady of this tale, can't you tell me more?