06 maio 2014

Insone II

uma da manhã
ouves a ausência dos ônibus
dos carros
das rodas
não tem gente no buteco
sobra só um cutucar de papelão lá embaixo
ninguém fala
pode ser um cachorro
um gato, um trem qualquer

o silêncio da rua amplifica inunda ensurdece
o vidro quebrado da janela não dissipa o calor do quarto
realça tão só o arrepio

o relógio na cozinha estoca

a cama morna
o vazio imóvel

tudo acabado o baile encerrado atordoado
e o sono..
que sono?

05 maio 2014

Insone

Então pensa nela, desgraçada!
vai, pensa!
em cada sarda no brilho do sol nas íris no cabelo cabelo em cascata
vai, pensa!
chafurda nessa merda
se refestela na ausência
no pretérito mais que forçado

vai, esfrega sal na ferida
você já não consegue dormir de qualquer jeito
e insiste em enxergá-la em cada uma que passa
para seu dia esfrangalhar por nanossegundos

admita: tudo que você quer é vê-la tê-la
(sim)
seja ao menos uma abstinente responsável
e não se jogue de volta à primeira casa do tabuleiro

é longo duro odioso
mas se não o quê?
sê-la à sua imagem e semelhança?
me poupe
nos poupe
mas acima de tudo se poupe.