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"...Isidore entrou na sala e desligou a TV.
__Silêncio, que saltou das obras de madeira e das paredes o sufocou com um terrível e total poder, como se gerado por uma imensa usina motriz. Subia do chão, do carpete coçado que ia de parede a parede, soltava-se dos eletrodomésticos quebrados e semiquebrados da cozinha, as máquinas mortas da cozinha, as máquinas mortas que nem uma única vez haviam funcionado desde que estava ali. Escorria do poste de iluminação inútil da sala de estar, misturando-se com a vazia e muda descida de si mesmo do teto manchado por moscas. Conseguia, na verdade, emergir de todos os objetos dentro de seu campo de visão, como se ele - o silêncio - quisesse suplantar todas as coisas tangíveis. Daí assaltava não só seus ouvidos, mas também seus olhos. Ao lado do aparelho apagado de TV, experimentou-o como se fosse visível e, à sua própria maneira, vivo. Vivo! Antes, sentira com freqüência a sua austera aproximação; quando chegava, estourava sem sutileza, evidentemente incapaz de esperar. O silêncio do mundo não podia controlar mais sua cobiça. Não mais. Não, quando virtualmente vencera.
__(...) Mas, por esta altura, claro, ele mesmo estaria morto, outro fato interessante a prever, pensou, enquanto permanecia ali sozinho na sala de estar abandonada, apenas com o silêncio do mundo, um silêncio sem pulmões, que a tudo penetrava, irresistível."
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Philip K. Dick
Um comentário:
Você tem razão Le... sexta ou sábado que tal? O que você quer fazer?
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