Na filosofia oriental (perdoem ignorâncias, sou estupidamente desinformada), para criar uma mentalidade harmoniosa, é necessário o equilíbrio entre os dois lados da moeda, Yin e Yang; ou razão e instinto, se preferirmos pôr nestes termos.
Pois bem, examinando os costumes do budismo, observo ao longo da senda óctupla (se é que o nome é esse e eu não estou alucinando) que há uma supressão do conteúdo instintivo - ou ruim - da parcela que compõe a mentalidade humana. Veja bem, há os preceitos de não matar, não fazer sexo, não comer carne (vermelha?). Matar, reproduzir e se alimentar são aspectos básicos que o instinto animalesco de sobrevivência de si e da espécie produz. Matar para se manter vivo, copular para manter a espécie viva e se alimentar para se manter vivo. A harmonia seria então a completa retirada de qualquer coisa que remeta à condição existencial da espécie humana? O humano perfeito seria aquele que reprimiu até a necrose todo indício de instintivo e tornou-se um ser absolutamente racional, cujo pensamento predomina sobre tudo? Ou o instinto e a razão devem manter-se realmente equilibrados, lado a lado?
E aí começa a minha inquietação em nível pessoal. O andamento que minha vida teve ao longo deste ano foi justamente tentar excluir da minha pessoa, paulatinamente (e convenhamos, baseada em escolhas um tanto quanto oportunas a mim mesma), o aspecto considerado 'ruim' dentro da moralidade que vigora na atualidade (embora seja mendaz). Tentei ser menos pessimista, cuidar dos seres que me rodeiam com menos descaso e mais carinho - as plantas foram grandes empreendimentos neste sentido -, conhecer melhor as pessoas e julgá-las menos, reduzir meus preconceitos, diminuir minha preguiça e meus obstrutores naturais, viver mais em contato com o mundo à minha volta, não tão reclusa nos meus pensamentos. Sei que muitos - senão todos - sequer perceberam o que se passava, mas acontece; é difícil levantar os olhos de si mesmo para examinar o ambiente, com sincera boa vontade. Então as coisas mudaram, e nestas últimas três semanas eu encaro meu passado recente não com desprezo, mas com incompreensão. É como se eu tivesse colocado os óculos escuros para ver melhor o mundo que ofuscava um pouco, e visse o quão inútil fora todo o meu esforço. As coisas morrem e deterioram, as pessoas têm defeitos - além da sina de não conseguir curar todos eles - e não estão nem um pouco interessadas em corrigi-los, o Mundo seguiu adiante (eu havia perdido a profundidade desta citação desde que o ano começou), a paz não existe, tampouco a plena satisfação entre todos, assim como a violência é algo inerente a todos, desde as agressões verbais pensamentos assassinatos à tudo que me cerca. Sei que parece desconexo, mas essa violência essa crueza esse pretoebranco é o que me faz escrever e manter fina a camada de espelho que me separa de Sibilla.
Há quem pense ao ler isto que perdi completamente o fio da meada, que estou deprimida ou algo do gênero; mas isto é apenas uma lista de observações que necessitam de outras para que se saciem e eu consiga um mínimo de calmaria para esta minha confusão mental. Eu preciso de um caminho a seguir. Eu preciso de uma forma de me compor, porque os antigos alicerces ruíram com o passar do Mundo.
3 comentários:
Le, relaxa.Esse negócio de equilíbrio é um macete, uma metafora. Escolhe-se o caminho do meio porque vai ser o caminho mais ameno, afinal, se acontecer alguma coisa é muito mais fácil de mudar de caminho do que se for algum extremo. mas isso não funciona totalmente que as coisas não são simplesmente Yin ou Yang. O negócio é ser feliz. é fazer o que se quer, mas ter a responsabilidade daquilo que se faz e aguentar suas consequencias. O mundo só é imperfeito quando a gente tem uma idéia de perfeição, o que é totalmente arbitrário. Então, não se preocupe, viva e seja feliz.
Viva e seja feliz, mas pelamordedeus não viva com o lema "Carpe Diem".
Ah, e mil desculpas, no primeiro comentário eu na verdade quis dizer colocar os óculos, e não tirá-los.
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