06 abril 2008

Crise

Ela chegou um dia naquele ponto em que a consciência se torna pungente sobre todas as decisões que tentam se passar despecebidas, inconscientes; feito cachorro que tenta entrar em casa para pegar alguma guloseima que caiu no chão, tentando não despertar a atenção do dono que faz o almoço. Quando não se tem mais o 'sem querer'. Chegou ao ponto de controlar perfeitamente o humor, feito titereiro com a marionete da própria personalidade, do próprio corpo, de si mesmo. Explorou os limites até tê-los todos mapeados, delineados com perfeição.
Mas a paz que deveria chegar com essa sapiência, se perdeu no caminho.
Como se houvessem dois seres pensantes dentro de uma só carcaça, um submisso ao outro. Quando o pobre-coitado tenta timidamente se mover, se erguer, sussurrar, o senhor-racional lança um olhar canto-de-olho beligerante, numa incansável imposição mental entre o dominador e o dócil dominado.
O esgotamento se instalou nela, ao perceber cada motivo de todas suas ações pensamentos coisas estúpidas banais. Clamou por paz, dada a irreversibilidade da situação. Ela chorou para ser menos indecisa, insegura e triste.
O triste fado da constestação finalmente soltou todo o seu peso sobre os seu frágeis ombros, afundando-a num oceano chumbo de perguntas sem resposta, de relacionamentos capengas, de horizonte cinza.
Ela suspirou, entorpecida, em seguida mexeu os dedos gelados de frio que roçavam no piso onde estava sentada, encarando o escuro.

Um comentário:

Nara disse...

Porque você escreve tão bem?
Seu texto me fez lembrar um dia a não muito tempo atrás.
amo você,
beijos

ps:voltei pra cá!