12 abril 2008

Um Conto a Quatro Mãos (XII)

"Who will walk through the mirror door 
Will there be music, or will there be war?" - The Who
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///Com os braços repletos delas e dos bolsos espiando outras, um homem veio andando à frente, com suas doces cobras de olhares faiscantes; logo atrás veio uma senhorinha de mãos dadas com uma pequena criança carregando três bonecas ruivas apertadas junto ao peito. Passando por todos numa velocidade irregular, um senhor andava rápido e muito devagar, com o olhar perdido em algum ponto além. Acompanhado de um tilintar irritante de um colossal molho de chaves vinha uma figura magérrima e encurvada; os pontos negros encovados sobre olheiras crônicas fitavam o garoto que andava ao seu lado batendo fortemente os sapatos barulhentos no chão, ouvindo algo no walkman e munido de brinquedinhos de cachorro - dos que fazem 'fyííí'. Dois homens imundos carregavam um terceiro, estático com os braços esticados pra cima, rígido como um aspargo. Um quarentão impecável conduzia um adolescente de olhos vendados; o canto de sua boca tremia e ele parecia se concentrar em não olhar para o conjunto que fedia à sua frente. Por último, seguia tímida uma jovem com uma pasta debaixo do braço e no colo uma pequena garotinha que ressonava tranqüilamente.
///Um cheiro incômodo se infiltrou nas narinas sofridas de Meinfreund. O Anfitrião fechou o espelho com um cutucão da bengala e com a voz cristalina fez-se ouvir sobre os sapatos que pisavam em sua voz como pisavam no piso de tacos de madeira.

"Ei! venham por aqui, minhas crianças

Vamos à sala, peço-lhes urgência
Vamos à sala, sem tardança
Rapazes, cuidado com o Aspargo (dai-me paciência!)

Temos assuntos a tratar
Pela sala sairemos
Iremos para um belo lugar
E pela sala voltaremos

Sigam para o espelho do próximo ambiente
Encantar-se-ão com o nosso destino
Mas à caminho, meus amores, é urgente!
Luís, seja os olhos de Estrôncio! Por São Peregrino!"

\\\O adolescente de olhos vendados tropeçou numa irregularidade do tapete, sendo amparado pelo quarentão, que balbuciava desculpas. A Anfitriã lançou à Amicomio um olhar convocador.

4 comentários:

Unknown disse...

"E sonhou com as sebes altas e sussurrantes, regadas a singelas melodias de um cravo bem temperado."

Que frase mais bela :}

Era para eu ter comentado ontem mesmo, mas eu queria ter lido o conto inteiro antes. Os dois escrevem muito bem! E a cada kapitel eu fui sendo mais e mais absorvida. Vou deixar um comentário para seu amigo também.

ps: adorei a idéia de bonecas ruivas.

Anônimo disse...

Sim senhora.
E tú, trate de escrever mais :3

Anônimo disse...

O texto ao qual você se refere na verdade não é de minha autoria - é uma letra de música da regina Spektor adaptada. Porém, esse último post (dia 17/04) é meu sim :) Apesar de não ser grandes coisas.

Acho que você tem mesmo é que seguir seu instinto... Mas se você quer mesmo ajudar, há várias maneiras. Vira e meche acontecem manifestações do tipo. Se quiser, podemos nos encontrar qualquer dia para irmos :)

Bjs!

Tuma disse...

http://amortescimento.blogspot.com/2008/05/um-conto-de-duas-pessoas-xiii.html