13 janeiro 2022

Entretelas

Desencontramos vistas.
Muito temos nos olhado.
Te vejo, me vês, 
mas não te encaro
    (para uma comunidade fixada em
        olhares sinuosos e eloquentes
        é como perder a língua,
            o tato).

Não sinto daqui o 
    frêmito mal contido sob tua pupila
que dilata e me engole,
    como se fosses Gulliver e eu, uma lilipute
    (mas basta dessas metáforas colonialistas
        - a ti vou me dando,
        enquanto me cedes tu).

Sinto os estremecimentos da conexão
    tua voz em formato .midi,
    e erráticas oscilações da rede.

Sinto a falta, o vazio
    a ausência embaixo do cobertor
    — Mas sou assaltada, inesperadamente
        pela textura da tua pele
            a tridimensionalidade da tua figura
            que pula de um pedaço de tela 
                                (ou de papel)

Me queimas a roupa,
    sobra o desejo
    chamuscado de lembrança.

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