'Escravos de Jó, jogavam Caxangá
Tira, põe, deixa ficar
Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá!
Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá!'
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__(...) Seguido da singela entoada, apalpou os bolsos internos do paletó, fazendo, com um esganiço das juntas metálicas, a passagelétrica soerguer, ameaçadora. Parecia uma casa qualquer, cujos muros acinzentados apresentavam-se coroados de desafios arregaçados. O Anfitrião adentrou, batendo a bengala no chão como se para conferir de que ele continuava ali, duplamente concreto. A neve era fofa e o moço - pobre moço - tinha a pele encravada de arrepios sanguinolentos.
__Térreo, primo piso, porta, olhos, cortinas... o Anfitrião - ou a Anfitriã? - fez a passagem engolí-los com mais uma cutucadela no paletó. A chave que misteriosa-mente surgiu em sua luva calçada tinha um formato peculiar, mas foi inserida na lateral da maçaneta, junto de uns cliques agudos e secos e quando viu, sumiu.
__Abandonando o moço tingido de escarlate para que em paz fizesse sua higiene pessoal com um tantinho mais de privacidade, o Anfitrião deixou-o defronte a porta de mogno que dava acesso ao banheiro azul, seguindo pela excêntricasa sem desgrudar de sua bengala. Sala futurista - e de cores contrastantes -, sala barroca - com um cravo sorrindo com suas teclas acastanhadas a receber luz de uma vasta parede envidraçada (meio encoberta por uma cortina de veludo), hall 'noir' e enfim a cozinha... cubista. Todos os aparelhos aparentavam ter sido geomilimetricamente feitos sob medida - coisa que de fato ocorrera, quando o mundo ainda era um ovo tremilicante aberto em cima de uma orca a navegar pelo universo à fora -, de cores tão vivas a ponto de estarem prontas a sair pulando por aí feito cabritas. Em cima do fogão de bocas triangulares se encontrava um grande panelão-paralelepípedo, com uma canja excepcional (incrementada por aspargos) dentro. Abrindo o armário laranja ao cutucão de sua bengala, recolheu treze cubos de tamanho respeitável, cuja extremidade superior abria.
__Munido de infinita paciência, ele despejou o jantar dentro de cada receptáculo, depositando uma colher não-curva, fechando e transferindo para um carrinho - freqüentemente associado a doces. Finita a operação, se dirigiu ao hall e em frente à base da escada (a ser trilhada para acessar os quartos), pressionou com a (bendita) bengala um pedaço do rodapé, escancarando uma passagem. Ouvindo o ininterrupto e aleatório ruído, o Anfitrião abriu em seu semblante andrógeno um sorriso doce e depositou o carrinho numa plataforma ao lado da estreita sucessão de degraus. Acionou um dispositivo para baixar o jantar de seus fascinantes moradores, indo ao seu encontro, com seus sapatos ecoando no piso de tacos.
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