01 novembro 2007


Escrevo? Deixo de escrever? Rasgo minha pele com as letras disformes que anseiam por sair? Imprimo-as no meu cérebro? Ouço-as soletradas pela brisa horrorosamente quente que varre estas três dimensões que eu consigo chamar de realidade? Leio-as nas irregularidades das folhas, entre movimentos nas periferias da vista? Cheiro-as como ao papel e a cola de algum livro aberto? Teclo-as com os meus dedos irrequietos que se estalam compulsivamente?

Não, não escrevo. É melhor deixá-las guardadas aqui dentro, esperando o tempo passar. Ele chega, sem dúvida, mas a que preço? Não fará bem dizer isso, e talvez só piore. Mas as palavras cutucam martelam gritam esperneiam feito crianças mimadas. Elas não gostam de ser reprimidas, isto é fato. Mas, penso, olhando para meu umbigo untado de suor e de novo para a tela fosforescente, latejante. Mas, de que servem as palavras se não forem ditas? Para que cargas d'água (e é exatamente o que eu necessito neste momento) elas servem?

Para comunicação foram feitas. Ego-mundo, mundo-Ego. Mas se o interlocutor não as quer ouvir, por que elas insistem em se multiplicar pela mente, feito erva-daninha? Elas não têm vida própria, ao menos não deveriam. São palavras. Objetos utilizados para comunicação. Ponto. Ponto. Ponto. (...) Antes fosse.

Ao imprimir tanto significado a elas, me sinto manipulada, não manipuladora de tais. É vertiginoso, e deveras desconfortável.
Nem tanto. O mundo não é feito de tantos conceitos extremos...?
Ego-palavra, palavra-Ego não é exceção.

ou É?

2 comentários:

Nara disse...

Somos todos um bando de egocentricos andando por um espaço comum.
Mas eu amo você e o seu ego.
*:

Dal Molin disse...

Brilhante.Por sinal, a parte do ponto-ponto-ponto poderia ter ficado sem o (...). Só uma sugestão.