Hoje reparei que tenho escrito a tese na fonte Aptos. Minha mente imediatamente passeou pelo trocadilho de que se sinto algo a respeito dessa escrita, é inaptidão, e que talvez devesse escrever em uma chamada Inaptos. Para além da autocomiseração evidente desse trocadilho infame - e que espero que minha tese tenha menos adjetivos desnecessários que minha escrita auto-ficcional - fiquei pensando nas pequenas informações que a vida cotidiana constantemente descarta, para conseguirmos ser funcionais.
E, nessa filtragem constante, no que consistiria a aptidão para a escrita? A capacidade de seguir planos e se constranger a trabalhar com diligência? É o que pesquisadores, acadêmicos-de-redes-sociais, tutores de escrita acadêmica e gurus coaches apregoam. A urgência ansiosa dos aflitos (que também atende pelo nome mais romântico de "inspiração") que escrevem desenfreadamente quando a areia da curva da ampulheta começa a descer? É o que eu gostaria de acreditar, vendo maio se aproximar e sem a energia e produtividade que parecem necessárias para isso.
at any rate, six to seven years feel too long (and yet too short).
[ Tudo e Nada ]
07 julho 2022
The sunday that followed that friday 13th
In maurice, forster writes
"because i say so little you think i don't feel. i care a lot"
as a bloody huge moon rises as we
ride through maurice ave
as the full moon hides in the sunday that followed that friday the 13th
a feeling shies in the back of the car
as my mind glides through chilly empty blocks in maurice
avenue there's talking in the front seats muffled
by the glinting eyes of a scared dog that
ogles me as we drift
silently among stirring breaking screeching
caring passengers of bloody orbits
carrying sounds that slip past us
and leave no trace but a faint absence
In that sunday that followed the friday 13th
i cared for a fearful dog
as we slid through maurice ave
deaf with thoughts and taiwanese songs
drifting back and forth the bloody ever smaller
moon
may-jul/2022
20 janeiro 2022
corporeal
Um corpo é só um
corpo -
And yet, the way
your body moves
feels faintly connected
as if minute cobwebs stretched
all the way down
to mine.
A body
is just a body.
Ainda assim, seu corpo
se move esgarçando teias
dispostas ordenada e
ubiquamente
para mantê-lo no seu
respectivo
lugar.
Um corpo é
just a body
but the way it performs itself
desatento aos fios e repuxos
desafrouxa alguns nós e
os transforma em ninhos.
A body só é
um corpo
mas torná-los dois, reconectando-me
ao teu
engulfs me.
And I can't even feel
all these ties trying to
drag us down.
13 janeiro 2022
Entretelas
Desencontramos vistas.
Muito temos nos olhado.
Te vejo, me vês,
mas não te encaro
(para uma comunidade fixada em
olhares sinuosos e eloquentes
é como perder a língua,
o tato).
Não sinto daqui o
frêmito mal contido sob tua pupila
que dilata e me engole,
como se fosses Gulliver e eu, uma lilipute
(mas basta dessas metáforas colonialistas
- a ti vou me dando,
enquanto me cedes tu).
Sinto os estremecimentos da conexão
tua voz em formato .midi,
e erráticas oscilações da rede.
Sinto a falta, o vazio
a ausência embaixo do cobertor
— Mas sou assaltada, inesperadamente
pela textura da tua pele
a tridimensionalidade da tua figura
que pula de um pedaço de tela
(ou de papel)
Me queimas a roupa,
sobra o desejo
chamuscado de lembrança.
26 agosto 2021
rummy
I play my heart cards close to my chest, one
hand firmly holding its smooth yet cold edges, another
dropping to their lap
to rest and warm my fingertips.
Diamonds twinkle in their glasses
as their eyes look through me and assess my hand.
They flicker back and
discard some spades.
I draw a club.
I sigh out its heaviness,
detach its utility from my chest
and shed it off.
But the hearts remain still
encased and
away from their glinting eyes.
I'm almost out of discards
and my options are always narrower.
But this heart meld won't be in disarray
(i tell myself),
it'll be either under my firm grasp
(close, so close to my chest)
or laid off on the table, bare for their flirting appraisal.
Soon, i think.
But then they meld their cards away,
its diamonds scattered through the plain
surface, their face conclusive:
a shy heart game, a shed club
and that is all.
I keep my heart cards close to my chest, but
they win, so they take my hand and my hearts with it.
hand firmly holding its smooth yet cold edges, another
dropping to their lap
to rest and warm my fingertips.
Diamonds twinkle in their glasses
as their eyes look through me and assess my hand.
They flicker back and
discard some spades.
I draw a club.
I sigh out its heaviness,
detach its utility from my chest
and shed it off.
But the hearts remain still
encased and
away from their glinting eyes.
I'm almost out of discards
and my options are always narrower.
But this heart meld won't be in disarray
(i tell myself),
it'll be either under my firm grasp
(close, so close to my chest)
or laid off on the table, bare for their flirting appraisal.
Soon, i think.
But then they meld their cards away,
its diamonds scattered through the plain
surface, their face conclusive:
a shy heart game, a shed club
and that is all.
I keep my heart cards close to my chest, but
they win, so they take my hand and my hearts with it.
08 abril 2021
anticipation
i just wanted to
kiss your eyelids
gently
caress your lips with my
thumb
as i slowly
brush your shoulders
wandering down
toward your
omoplates
or maybe
stroke your faintly colored
hair
and feel it
tickling
against my fingertips
and then
but we're far far apart
and i haven't as much as
kissed you hi yet
our mouths are always touching
masks and fogging our glasses
and when we reach out into each other
is always through
books and words and
feelings
often songs
but hardly spoken words
yet, sometimes i permit myself to
long for your bare skin slipping
warm
(maybe chilly, maybe wet)
against
mine
17 março 2021
Formas de marcar o tempo
Subtrair doze minutos do contador do microondas
- que corre mais que
as pernas dos segundos -
rubato
saber do número de mortos do dia
do mês da
pandemia
contar os comprimidos restantes da cartela
ritenuto
ouvir os chamados da cachorra para a noite se nos debruçar
e com ela o tropel descompassado
de andante noturno
presto
descartar o relógio de movimento
que parou na semana 1 ano 1
fermata
ouvir o caminhão hospitalar
esfregando a entrada de pedestres
na descalada da noite
sforzato
calcular o tempo
temperatura gramatura
desenhar agendas semanais
às segundas
para ir riscando
tarefa-a-tarefa-a-periodo-a-periodo
da capo
pesante
contar os comprimidos restantes da cartela
ritenuto
ouvir os chamados da cachorra para a noite se nos debruçar
e com ela o tropel descompassado
de andante noturno
presto
descartar o relógio de movimento
que parou na semana 1 ano 1
fermata
sentir o pó sobre a superfície de trabalho
ritornello
ouvir o caminhão hospitalar
esfregando a entrada de pedestres
na descalada da noite
sforzato
calcular o tempo
temperatura gramatura
do impasto
a tempo
a tempo
desenhar agendas semanais
às segundas
para ir riscando
tarefa-a-tarefa-a-periodo-a-periodo
da capo
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Devaneios,
Espremidos,
poesia..?
20 março 2020
mãe, valter hugo. a máquina de fazer espanhóis
(...) e ele queria saber se estar bem era andar de trombas. eu respondi que o tempo não era linear. preparem-se sofredores do mundo, o tempo não é linear. o tempo vicia-se em ciclos que obedecem a lógicas distintas e que se vão sucedendo uns aos outros repondo o sofredor, e qualquer outro indivíduo, novamente num certo ponto de partida. é fácil de entender. quando queremos que o tempo nos faça fugir de alguma coisa, de um acontecimento, inicialmente contamos os dias, às vezes até as horas, e depois chegam as semanas triunfais e os largos meses e depois os didácticos anos. mas para chegarmos aí temos de sentir o tempo também de outro modo. perdemos alguém, e temos de superar o primeiro inverno a sós, e a primeira primavera e depois o primeiro verão, e o primeiro outono. e dentro disso, é preciso que superemos os nossos aniversários, tudo quanto dá direito a parabéns a você, as datas da relação, o natal, a mudança dos anos, até a época dos morangos, o magusto, as chuvas de molha tolos, o primeiro passo de um neto, o regresso de um satélite à terra, a queda de mais um avião, as notícias sobre o brasil, enfim, tudo. e também é preciso superar a primeira saída de carro a sós. o primeiro telefonema que não pode ser feito para aquela pessoa, a primeira viagem que fazemos sem a sua companhia. os lençóis que mudamos pela primeira vez. as janelas que abrimos. a sopa que preparamos para comermos sem mais ninguém. o telejornal que já não comentamos. um livro que se lê em absoluto silêncio. o tempo guarda cápsulas indestrutíveis porque, por mais dias que se sucedam, sempre chegamos a um ponto onde voltamos atrás, a um início qualquer, para fazer pela primeira vez alguma coisa que nos vai dilacerar impiedosamente porque nessa cápsula se injecta também a nitidez do quanto amávamos quem perdemos, a nitidez do seu rosto, que por vezes se perde mas ressurge sempre nessas alturas, até o timbre da sua voz, chamando o nosso nome ou, mais cruel ainda, dizendo que nos ama com um riso incrível pelo qual nos havíamos justificado em mil ocasiões no mundo.
22 setembro 2019
Tenho olhos
tenho olhos cansados
da luz desnuda dos corredores
e salas
intermitente pelos que vão e vem
- esses que às vezes se demoram
pelos umbrais
fazem hora
bloqueiam a claridade
e assim que se vão
ofuscam
too bright a sight.
tenho os olhos cansados
das telas das telas das
telas
das letras monitores e devices
de versos ocos
de Hefestos manco
meus olhos, de cansados
ardem
desfocam, embaçam
veem fantasmas pelos cantos
figuras e vultos impressos na retina
(esses nem sei se desbotam)
mas veem ipês escondidos
e pitangueiras em flor.
nessa hora, descansam
no mais, secam
no vapor árido dos escapamentos
latejam ao compasso dos freios
arranques e buzinas
pestanejam
fecham e
reabrem, cansados.
da luz desnuda dos corredores
e salas
intermitente pelos que vão e vem
- esses que às vezes se demoram
pelos umbrais
fazem hora
bloqueiam a claridade
e assim que se vão
ofuscam
too bright a sight.
tenho os olhos cansados
das telas das telas das
telas
das letras monitores e devices
de versos ocos
de Hefestos manco
meus olhos, de cansados
ardem
desfocam, embaçam
veem fantasmas pelos cantos
figuras e vultos impressos na retina
(esses nem sei se desbotam)
mas veem ipês escondidos
e pitangueiras em flor.
nessa hora, descansam
no mais, secam
no vapor árido dos escapamentos
latejam ao compasso dos freios
arranques e buzinas
pestanejam
fecham e
reabrem, cansados.
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Estertores,
poesia..?
01 abril 2019
Libertate Kalea
A liberdade em Bilbao é uma rua estreita e
curta
onde não passa carros
nem mulheres de salto alto
os prédios são velhos e descascados
e não há muita luz
além das bitucas acesas dos transeuntes.
Cá os pedestres andam sem por reparo onde pisam
com a cabeça em seu destino
ou na roupa que deixou estendida
- não costuma chover em março
mas essa umidade...
o trânsito é esparso
sem cachorros ou pedintes
que preferem as ruas mais movimentadas
a liberdade, ali, é uma rua
miúda
um mísero quarteirão
que morre na rua dos fabricantes de guarda-chuva
curta
onde não passa carros
nem mulheres de salto alto
os prédios são velhos e descascados
e não há muita luz
além das bitucas acesas dos transeuntes.
Cá os pedestres andam sem por reparo onde pisam
com a cabeça em seu destino
ou na roupa que deixou estendida
- não costuma chover em março
mas essa umidade...
o trânsito é esparso
sem cachorros ou pedintes
que preferem as ruas mais movimentadas
a liberdade, ali, é uma rua
miúda
um mísero quarteirão
que morre na rua dos fabricantes de guarda-chuva
26 novembro 2018
Dear John,
Some weeks ago I wrote you a letter
it felt like running backwards
to a time and place that bore little resemblance to what I thought I was
for that I used to travel so much
through words and images and symbols
I scarcely felt alone
as I was constantly moving and had hordes of characters hanging around.
Living since has been feeling like stepping further into a sticky
stinky slimy mud
Entering the Nothingness of a world of
reasonable thought and (sometimes polite) savageness
in which all my fellows cannot follow me.
I think I disgust them
all covered in realistic boredom and
crude stillness.
Dear John,
Sometimes I feel the urge of writing
but it soon fades
as so many people and creatures did
(you included)
then I am assaulted by shame
and embarrassment
of being unable to cope with this evermounting
reality
Also, incapable of fantasizing
I've turned you, so concrete and real (somewhere
out there)
into an old phantom
(maybe this time you won't disappear when needed)
it felt like running backwards
to a time and place that bore little resemblance to what I thought I was
for that I used to travel so much
through words and images and symbols
I scarcely felt alone
as I was constantly moving and had hordes of characters hanging around.
Living since has been feeling like stepping further into a sticky
stinky slimy mud
Entering the Nothingness of a world of
reasonable thought and (sometimes polite) savageness
in which all my fellows cannot follow me.
I think I disgust them
all covered in realistic boredom and
crude stillness.
Dear John,
Sometimes I feel the urge of writing
but it soon fades
as so many people and creatures did
(you included)
then I am assaulted by shame
and embarrassment
of being unable to cope with this evermounting
reality
Also, incapable of fantasizing
I've turned you, so concrete and real (somewhere
out there)
into an old phantom
(maybe this time you won't disappear when needed)
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Espremidos,
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12 julho 2018
On unvegetable plants
Some weeks
ago I bought a plant. A succulent, to be precise. The uncheerable office would
at least have a cute, though rather boring, being. Boredom should be displayed at the office
entrance, instead of its untrue name. “Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate”.
Strip it off, it shall be useless, and a burden.
So, within
those barren brittle walls I have spent quite a lot of time, breathing judicial
thickness, mites and dust. Preventing myself from leaping to find open air –
which is easy enough, once the windows are sole glass panels, inopenable.
Trying to imprint some sense in the anguish that spreads through the central
air.
I was
pretty satisfied with my succulent, which, to me, had shown signs of adapting
quite well to the unfriendly place. Watering twice a week, and leaving it in
the parapet during the weekends, I had the impression that it was actually
growing, happy to leave a dull shelf in the supermarket.
Today
however I was surprised by the assertive analysis of two colleagues that
declared that that was no plant. It’s fake, they peremptorily stated. Bewildered, I examined it. I had already
watered, cherished, caressed. An unvegetable plant.
Unconvinced,
but hurt all the same, I refused to tear a leaf and settle the matter. It would
not make a difference. Stunned by being incapable of differentiating a living
thing from a piece of plastic.
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Experiências
15 junho 2018
02 outubro 2017
DRUMMOND, C. A hora do cansaço
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
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De Outrens,
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19 fevereiro 2017
MARQUES, A. M. Tenho quebrado copos
Tenho quebrado copos
é o que tenho feito
raramente me machuco embora uma vez sim
uma vez quebrei um copo com as mãos
era frágil demais foi o que pensei
era feito para quebrar-se foi o que pensei
e não: eu fui feita para quebrar
em geral eles apenas se espatifam
na pia entre a louça branca e os talheres
(esses não quebram nunca) ou no chão
espalhando-se então com um baque luminoso
tenho recolhido cacos
tenho observado brevemente seu formato
pensando que acontecer é irreversível
pensando em como é fácil destroçar
tenho embrulhado os cacos com jornal
para que ninguém se machuque
como minha mãe me ensinou
como se fosse mesmo possível
evitar os cortes
(mas que não seja eu a ferir)
tenho andado a tentar
não me ferir e não ferir os outros
enquanto esgoto o estoque de copos
mas não tenho quebrado minhas próprias mãos
golpeando os azulejos
não tenho passado a noite
deitada no chão de mármore
estudando as trocas de calor
não tenho mastigado o vidro
procurando separar na boca
o sabor do sangue o sabor do sabão
nem tenho feito uma oração
pelo destino variado
do que antes era um
e por minha força morre múltiplo
tenho quebrado copos
para isso parece deram-me mãos
tenho depois encontrado
cacos que não recolhi
e que identifico por um brilho súbito
no chão da cozinha de manhã
tenho andado com cuidado
com os olhos no chão
à procura de algo que brilhe
e tenho quebrado copos
é o que tenho feito
é o que tenho feito
raramente me machuco embora uma vez sim
uma vez quebrei um copo com as mãos
era frágil demais foi o que pensei
era feito para quebrar-se foi o que pensei
e não: eu fui feita para quebrar
em geral eles apenas se espatifam
na pia entre a louça branca e os talheres
(esses não quebram nunca) ou no chão
espalhando-se então com um baque luminoso
tenho recolhido cacos
tenho observado brevemente seu formato
pensando que acontecer é irreversível
pensando em como é fácil destroçar
tenho embrulhado os cacos com jornal
para que ninguém se machuque
como minha mãe me ensinou
como se fosse mesmo possível
evitar os cortes
(mas que não seja eu a ferir)
tenho andado a tentar
não me ferir e não ferir os outros
enquanto esgoto o estoque de copos
mas não tenho quebrado minhas próprias mãos
golpeando os azulejos
não tenho passado a noite
deitada no chão de mármore
estudando as trocas de calor
não tenho mastigado o vidro
procurando separar na boca
o sabor do sangue o sabor do sabão
nem tenho feito uma oração
pelo destino variado
do que antes era um
e por minha força morre múltiplo
tenho quebrado copos
para isso parece deram-me mãos
tenho depois encontrado
cacos que não recolhi
e que identifico por um brilho súbito
no chão da cozinha de manhã
tenho andado com cuidado
com os olhos no chão
à procura de algo que brilhe
e tenho quebrado copos
é o que tenho feito
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