Enquanto grande vivência deste sábado
14, pós sexta-feira agourenta,
descobri que a morte tem cheiro
Pestilento, diria
- confesso que procurei o almiscarado que me prometeram os poemas e romances -
de cocô incontido
de ferida infecta
de ramela seca que não se permitiu tirar
de 39,4ºC.
Descobri também que
a morte é simples e direta
sem grandes rodeios:
é só dor, sofrimento
e depois mais nada
é líquido leitoso e
pi - pi - piii..
É um grande cansaço que enfim termina
uma exaustão que espasma
e petrifica.
Enfim, soube que a morte
não fecha olhos
nem permite que as orelhas os cubram
fica ali, naquela constatação inerte de que a vida continua para além;
de que a vida corre
e que a tarefa dos vivos, no fim, é a constante
e perene
despedida.
--
P.S. Acho que, por último, a morte é a limpeza dolorosa desse odor
é a espuma do sabão em pó
que esfregamos com força no cimento, para tirar os rastros
da doença
da sofferenza;
é o polimento das lembranças
(uma sistematização, talvez)
despindo-as do cheiro acre e putrefato
da dor esquelética
de quem diz "pra mim já deu"
- eu só gostaria de ter entendido.
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