14 maio 2015

Escritora de tempos.


Reescreves narrativas. Sim, as próprias, as vividas. Reinventas-as, tiras umas emoções, omites uns pedaços que não cabem no teu propósito. Contas a ti mesma: foi tudo tão de repente, chegou do nada, fiquei sem reação. Fantasias as coisas passadas para chafurdar ainda mais fundo. Esqueces das tuas faltas, das tuas culpas, palavras atravessadas.
Aí um dia encontras algo escrito, da época. Teu escrito, tua narrativa. Prova irrefutável de – veja bem, não era bem assim... viste chegando, cantaste a pedra e fizeste da mesma maneira. “como a mariposa indo de encontro à lâmpada” - escreveste. Axiomático.
De sopetão tudo fica meio confuso – mas, calma, então já sabias disso? As narrativas servem para muitas coisas – para iludir, para curar, para colocar panos quentes. Há fatos que nos entalam na garganta e nos fazem sufocar.
Também te fazem reincidir, pois te esqueces. A versão revisada faz sempre mais sentido, é melhor estruturada, tem uma tese, apresenta resultados. A outra só faz trazer inquietações, dúvidas cobertas de poeira, angústias, tristezas. Cruezas. E a certeza de que és tão igual a qualquer um. Um ser humano que desconstrói. E inventa. E se justifica, para ficar de bem com a pessoa mais importante desse teu mundo – tu.

Nenhum comentário: