Arfadas no escuro. Como se olhos fossem se acostumando ao breu, distinguem-se vultos. Dois eram eles.
Ouve-se um lento resfolegar no quarto ao lado - o terceiro ronca.
Um dos respirares acalma-se aos poucos. O outro suga, desesperado, cada vez mais ar.
'Tá tudo bem aí?' pergunta a primeira.
O segundo ofega, chia, angustia.
'Ei, o que houve?'
Ele tenta se sentar, arquejando pesadamente. A primeira se levanta rápida, desajeitada, acende a luz. O corpo nu na luz amarela, a pele sem pelo, os seios pequenos e arrepiados da primeira viagem, o olhar de pânico. O primeiro, do outro lado da cama, de silhueta magra e comprida (mal saída do estirão), convulsa, a arfar frases entrecortadas, ininteligíveis.
'...-binha de As-...'
A primeira veste a camiseta do segundo, caça sua calcinha (acha-a do outro lado do quarto); abre a porta aos trancos e sai.
Pancadas aflitas na porta do quarto ao lado.
'Escuta, tem alguma coisa acontecendo com o seu filho! Ele está asfixiando! (merda, merda!)'
O ressonar pára. Acende-se uma luz por debaixo da porta.
Um sussurro.
'Ai, caralho.'
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