31 julho 2010

Ele

era como um animal silvestre, não propriamente acanhado. não parecia seguir quaisquer tipos de comportamento racional - se é que racionalidade é uma característica dos seres humanos, no que diz respeito às ondulações emotivas (o que, há de se convir, é meio desconexo: porque o emocional teria um nome diferente se fosse composto do mesmo princípio da racionalidade?). não parecia estar seguro de si, nem do que queria; era uma grande flutuação, uma garrafa com alguma mensagem cifrada à deriva, impulsionada pelos sabores e dissabores da maré. se por algum momento avançava, impulsionando a imaginação, a esperança e a excitação de que algo por fim se modificasse e se tornasse algo diverso daquele impasse desconfortável, daquela distância estranha (aquela que quer fingir que não existe ou que se reduz, mas na realidade só aumenta... uma verdadeira ilusão de ótica!); se algo por ventura ousasse transpor esse limite que eu não saberia dizer qual é, o retrocesso era garantido, para não dizer brusco e evidente. era o molusco que, ao menor sinal de perigo, se recolhia à proteção. tudo então retornava aos dois conhecidos que se encontravam por acaso em um sábado de manhã, os ois, tudo bens, como vai a vida, o cachorro, a música...
é incrível ainda como se exaspera com essas situações, embora vividas, revividas, tetravividas - parecem sempre novas, como se fosse a primeira vez que o tango se misturasse ao ar.
sensação velha e surpresa ao se deparar com ela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Talvez o moço já sentisse vibrações do encontro antes do ocorrido. Pode ter sido algo deveras estonteante para ele. Tango não é para qualquer um.