Eu conhecia aquele olhar. De tantas catedrais, de tantas igrejas, de tantos museus, ele estava lá. O olhar. No rosto dos santos, dos mártires, das madonnas. Nas estátuas. Sempre em estátuas. Aquele olhar estava nelas. Não em todas, mas em muitas.
Os olhos voltados para o que vem de cima, a expressão vazia, ma non troppo. Não se vê nessas estátuas a inexpressividade, mas a conjunção com o divino, ou o sofrimento pedindo socorro, ou o cansaço terreno no ato de suspirar. A mescla de tantos olhares em uma expressão quase vazia, tão comum às esculturas, às estátuas, à pedra.
Mas desta vez o olhar não vinha da pedra, nem do gesso, nem de algo inanimado. Os olhos exaustos transpassavam o chão-teto do apartamento, olhavam mais para cima, para mais além, mais além. Era aquele olhar vindo de olhos umidecidos de dor e vasos estourados, que sustentava ao redor de si a pele já pendente em rugas, as bolsas inchadas ao redor dos olhos. Respirava com dificuldade.
Era um olhar de estátua numa escultura de carne e osso. E arfava. E sofria.
2 comentários:
Gostei do modo como vc escreve com sentimento!
Parabens!
Dá uma conferida no meu tb!
=*
continua, continua... quero saber o que acontece!
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