13 dezembro 2008

Relances - II

__Era dia; um qualquer, com sol, com nuvens, vidas e todas aquelas coisas que se têm em um dia. O clima era diáfano, de luz irradiante, e o tempo seguia, com inadiáveis afazeres cotidianos. Neste dia, neste momento, havia a rapariga dentro de uma casa - que, diga-se de passagem, não era sua. Seu nome, segundo constavam os arquivos, era Malicia Darktan. Loura, magrinha, 'desaparecida' desde o seus seqüestradores foram assassinados, com... adivinha?
__Irène sorriu. Era uma filhote peculiar.

__Malicia estava na sala, entretida com um quadro surrealista de gatos quando ouviu sirenes se aproximando. Ela se mudara há pouco tempo para aquela casa, e não fizera nada de errado! Tudo havia saído exatamente como das outras vezes, e entretanto eles estavam ali. Seus poros da pele arrepiaram, seu desespero a(s)cendeu. A sirene espetava sua audição e absorvia seu cérebro num oceano de insensatez.
__Os fundos; pensou. E rumou.

__As sirenes chegavam à casa. 'Oh geez...we brought company?..' Irène praguejou e olhou de esguelha para o companheiro, indicando o jardim da rua com a cabeça. Ele assentiu e rumou para os policiais com a foice reluzindo ao sol; a jovem se dirigiu para dentro.

__'Hey'; uma figura entrava pela porta dos fundos. Malicia recuou, com o coração pulsando mais na boca do que entre os pulmões. 'Hey heey, take it easy folk, come closer, I've to take you out of here' dizia a silhueta, entrando com uma pressa mal dissimulada. Darktan retrocedeu, vendo uma jovem mulher trajando um longo poncho verde, adornado por uma cascata de cabelos castanhos. Uma das mãos estava estendida na sua direção, mas a outra mantinha-se convictamente imersa na lã.
__Ouviram gritos.

__Louis deu a volta na casa, saindo pela lateral. Os policiais o viram de imediato e logo começou o alvoroço, ele suspirou. Quatro bolas de fogo se materializaram à sua volta, e em seguida começaram os gritos.

__Malicia assustou-se com o ruído do lado de fora. Sem dar ouvidos à apressada forasteira, ela subiu as escadas correndo. No corredor dos quartos, sentiu uma mão segurar-lhe o ombro com firmeza e gritou de susto. 'Come with me, ok? We've no time' Darktan parou, emudeceu e ficou olhando a moça, que interpretou como um tênue (as)sentimento. Ela soltou então seu ombro, afastou-se alguns passos com extrema rapidez e puxou de dentro do poncho um pedaço generoso de papel alumínio. Malicia entreviu uma mão deformada segurando o rolo laminado.
__Parecia uma... garra?

__Três policiais correram, em pânico. Outros falavam no comunicador. O resto apontava para ele e o cercava, com cautela. Pena que ele não podia fazer churrasquinho.

__Esticou o rasgo espelhado e com um movimento desajeitado e brusco, deu uma (patada?) no papel. Darktan olhou com um ar nauseado: era como uma grande pata de lobo...

__Aproximava-se um helicóptero, e Louis discerniu outro escalão de gente encarrapitado nele.
__'Oh, shit'.

__Aquele pedaço de papel alumínio começou a irradiar algo semelhante a um flash prolongado. Irène afastou o braço da fonte de luz e fitou a filhote; que não se mexeu. Tinha um helicóptero lá fora.

__Louis desandou em desabalada corrida para os fundos da casa. Uma bala errante acertou-lhe na altura dos rins, rendendo-lhe um rosnado nada amigável.

__A moça ouviu o tiro e exasperou-se. Apanhou o pulso da filhote e arrastou-a para a luz, para a Umbra.

__Louis parou derrapando na frente da janela dos fundos, enquanto sentia a pele se reintegrar. Ergueu a mão e arranhou a superfície vítrea com violência. Sem hesitar, pulou para dentro do centro de ofuscação.

__Mal haviam observado o ambiente distorcido, Malicia começou a sentir uma sensação adormecer-lhe a consciência. Como se dos pulmões subisse uma ardência avassaladora, ou como se um lobo subisse-lhe pela garganta.
__Irène sentiu o pulso da filhote engrossar sobre sua mão, e um grunhido gutural bafejar-lhe a nuca. Foi aí que correu.

__Louis pulou de qualquer jeito para dentro do rasgo e viu, à poucos passos de distância, uma loura garota encurvar-se sobre a própria altura, e crescer. Crescer. Crescer. Um poncho balouçante já sumia ao longe, no ar distorcido. Ele correu, para longe.

2 comentários:

m.regina disse...

hahahaha
Adorei! Ficou perfeita a sua descrição
também ame o "(as)sentimento", muito criativo.
Você vai continuar depois?

*hm, gostei.^^*

Anônimo disse...

Muitas outras garotas (louras ou não) crescem como Malicia; assim como muitos outros homens correm como Louis.

Mas e aí, ele conseguiu fugir...?

~ Bravo! Que venha então Relances - III